Estados Unidos vão incinerar 10 milhões de dólares em contracetivos

Pelo menos duas organizações humanitárias enviaram propostas à administração norte-americana para ficarem com os contracetivos em armazém, mas os Estados Unidos rejeitaram.

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Carolina Pereira Soares
23/07/2025 16:43 ‧ há 2 dias por Carolina Pereira Soares

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EUA

Os Estados Unidos vão incinerar cerca de 8,5 milhões de euros (10 milhões de dólares) em contracetivos financiados pelo próprio estado.

 

Implantes, pílulas e dispositivos intrauterinos, há meses num armazém na Bélgica, vão a caminho de França para serem destruídos, segundo avança a agência Reuters. E para além dos 10 milhões, a administração norte-americana vai gastar outros 160 mil dólares (quase 137 mil euros) só para incinerar os contracetivos.

A ação vai, segundo a Reuters, de acordo com uma política, conhecida como 'Mexican City Policy', que impede que o país trabalhe em conjunto com organizações que disponibilizam o acesso ao aborto.

Mas pode também estar relacionada com a marca dos contracetivos: a USAID, Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, que fechou portas recentemente por ordem de Donald Trump. A agência foi um dos principais alvos do Departamento de Eficiência Governamental de Elon Musk, que procurava eliminar o “desperdício” nas despesas públicas. Meses depois da saída de Musk vão, literalmente, arder 10 milhões de dólares em contracetivos.

Estados Unidos rejeitaram propostas de organizações humanitárias

Foram pelo menos duas as organizações que enviaram propostas à administração norte-americana para ficarem com os contracetivos em armazém: da organização não governamental (ONG) ‘MSI Reproductive Choices’; e o Fundo de População das Nações Unidas, a agência da ONU responsável por saúde sexual e reprodutiva.

Os valores não foram divulgados, mas a resposta norte-americana é conhecida: rejeitado.

"A MSI ofereceu-se para pagar por uma nova embalagem, pelo transporte e por taxas de importação, mas eles não estavam abertos a isso. Disseram-nos que o Governo dos Estados Unidos venderia os medicamentos apenas pelo valor total de mercado", disse a diretora-associada de advocacia da ONG, à Reuters.

Sarah Shaw considera que não se trata de uma questão de “economizar dinheiro” para os Estados Unidos: “Parece mais um ataque ideológico aos direitos reprodutivos.”

Com a ONU a história foi outra. As negociações não falharam, simplesmente nunca existiram porque as autoridades americanas não responderam aos contatos feitos pelas Nações Unidas.

No congresso norte-americano já foram introduzidas propostas para tentar impedir os contracetivos de serem incinerados, mas é muito improvável que sejam aprovadas a tempo.

Na Bélgica, o próprio ministério das relações exteriores admitiu já ter explorado “todas as opções possíveis para prevenir a destruição, incluindo realocação temporária”, mas até agora não foi garantida uma “alternativa viável”.

Posição dos Estados Unidos quanto ao aborto

Em 2022, o Supremo Tribunal dos Estados Unidos revogou o precedente judicial do caso conhecido como Roe v. Wade de 1973 -  onde o tribunal da época decidiu que a constituição norte-americana deve proteger a liberdade individual das mulheres grávidas e permitir que realizem um aborto, se assim quiserem.

Quase 50 anos depois, o precedente deixa de ser válido e a sociedade norte-americana divide-se sobre o tema do aborto. Atualmente, o procedimento é ilegal em 14 estados. Outros doze impõem restrições a partir da sexta semana de gestação e em oito estados a ilegalização permanece bloqueada graças a juízes federais.

A divisão segue as cores políticas dos Estados Unidos: estados democratas mantêm o direito à interrupção; os republicanos proíbem ou restringem o acesso.

Os relatos que chegam dos Estados Unidos falam em situações extremas de mulheres a morrerem devido a uma legislação ambígua, que pode prejudicar os profissionais de saúde que realizem o procedimento.

Na Geórgia, uma mulher em morte cerebral desde fevereiro tem sido mantida sob suposto de vida apenas por estar grávida. A família quer desligar as máquinas, mas o hospital recusa, alegando que a lei anti-aborto em vigor não o permite.

Leia Também: Três médicos condenados após morte de mulher que necessitava de aborto na Polónia

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