As audiências para a investigação do massacre de Gukurahundi (1982- 1987), que causou cerca de 20.000 mortos, foram contestadas pela União do Povo Africano do Zimbabué (ZAPU, na sigla em inglês), avança hoje a agência de notícias EFE.
A investigação do massacre, perpetrado por soldados zimbabuenses entre 1982 e 1987, foi contestada pela ZAPU por ser uma "paródia da justiça", confirmou este partido da oposição à EFE.
O líder da ZAPU, Sibangilizwe Nkomo, questionou a legalidade e o procedimento das audiências numa ação movida no fim de semana passado no Tribunal Superior de Bulawayo, num caso que será examinado terça-feira pelo juiz Munamato Mutevedzi naquela cidade (sudoeste).
Nkomo, filho do falecido vice-Presidente Joshua Nkomo (1990-1999) e fundador do ZAPU, disse à EFE que o seu partido "não apoia este programa de investigações e audiências" porque "é uma paródia da justiça para o povo das províncias de Matabeleland e Midlands", onde os massacres foram perpetrados.
As audiências foram criticadas pela proibição imposta aos meios de comunicação de cobrir o processo, que se realiza à porta fechada desde que começou na sexta-feira em Bulawayo, a segunda maior cidade do país.
"Aconselhamos os nossos membros a não participarem num processo envolto em segredo e controvérsia. A ZAPU quer que as pessoas envolvidas nas atrocidades prestem testemunho, uma vez que algumas delas ainda estão vivas hoje em dia", acrescentou Nkomo.
O Presidente do Zimbábue, Emmerson Mnangagwa, anunciou em julho de 2024 a abertura de investigações sobre os massacres contra a minoria ndebele na década de 1980.
Gukurahundi é o nome dado à operação de limpeza étnica contra os ndebeles, que foi executada pela Quinta Brigada do Exército Nacional do Zimbábue sob as ordens do então Presidente do país, Robert Mugabe (1987-2017), de acordo com a ONG norte-americana Genocide Watch (GW).
Mugabe, líder da União Nacional Africana do Zimbábue - Frente Patriótica (ZANU-PF), pertencia à etnia shona maioritária e ordenou os massacres para derrotar o rival, Joshua Nkomo - de origem ndebele - com a intenção de formar um Estado monopartidário, indicou a GW, que considera os massacres um genocídio.
As audiências começaram na sexta-feira com a presença de 72 líderes tradicionais das províncias vítimas dos massacres e o estabelecimento da logística.
O presidente do Conselho dos Chefes (que lidera as audiências sobre os massacres), Matshane Nkumalo, negou à EFE a existência de ordens judiciais, por enquanto, para deter o processo.
"Vamos seguir em frente, já que não há uma ordem judicial que suspenda os procedimentos", afirmou Nkumalo.
O ativista do Fórum de ONG pelos Direitos Humanos do Zimbábue, Obert Masaraure, apoiou a contestação judicial do ZAPU porque "as audiências organizadas pelo Governo são uma tentativa desesperada de encobrir e branquear as atrocidades de Gukurahundi".
"Devem nomear uma comissão internacional independente liderada por cidadãos credíveis", acrescentou Masaraure.
Mnangagwa, de 82 anos, que governa o Zimbábue desde 2017, quando um golpe militar derrubou Mugabe, era ministro da Segurança do Estado durante os massacres.
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