Shane Devon Tamura - o ex-jogador de futebol americano, de 27 anos, que matou quatro pessoas num tiroteio num prédio de luxo em Nova Iorque, na segunda-feira - alegou que sofria de encefalopatia traumática crónica (ETC), uma doença cerebral ligada a traumatismos cranianos. Em 2021, ocorreu um caso semelhante, quando Phillip Adams, também ex-jogador da mesma modalidade, matou seis pessoas a tiro, antes de colocar termo à própria vida.
A ETC, sublinhe-se, é uma doença neurodegenerativa progressiva provocada por múltiplos traumatismos repetitivos na cabeça e é frequentemente associada a jogadores de futebol americano, devido à exposição prolongada a impactos cerebrais.
Os sintomas da doença incluem perda de memória, alterações de humor e de comportamento e demência, além de problemas motores.
A 7 de abril de 2021, Phillip Adams, de 32 anos, matou a tiro o médico Robert Lesslie, a mulher deste e dois dos seus netos, além de dois homens que estavam a trabalhar na habitação de Lesslie, Rock Hill, na Carolina do Sul.
No dia seguinte, o ex-jogador de futebol americano colocou termo à própria vida após uma troca de tiros com a polícia da Carolina do Sul. Meses mais tarde, a autópsia revelou que ele sofria de encefalopatia traumática crónica.
Um neuropatologista que estudou o cérebro de Adams revelou, citado pela BBC, que o ex-jogador tinha CTE em estágio dois nos lobos frontais do cérebro.
À publicação, a Dra. Ann McKee, diretora do Centro de CTE da Universidade de Boston, disse que a carreira de jogador colocou Adams em "alto risco" de desenvolver a doença.
Mais de quatro anos depois, Shane Devon Tamura invadiu um arranha-céu luxuoso em Nova Iorque e matou a tiro um polícia e outras três pessoas, colocando depois termo à própria vida. O objetivo seria atingir a sede da Liga Nacional de Futebol Americano (NFL), mas o homem enganou-se no elevador.
Segundo a Polícia de Nova Iorque, Tamura tinha um histórico de doença mental, e uma nota confusa encontrada no corpo sugeria que o homem tinha uma queixa contra a NFL por uma alegação infundada de que sofria de encefalopatia traumática crónica.
"O futebol de Terry Long deu-me ETC e fez-me beber um galão de anticongelante. […] Não se pode ir contra a Liga Profissional de Futebol Americano (NFL), eles esmagam-nos", lia-se na nota de três páginas, que foi encontrada após o tiroteio, segundo disseram fontes ligadas à investigação à CNN.
Tamura referia-se ao caso do atleta Terry Long, antigo jogador dos Pittsburgh Steelers diagnosticado com ETC, que colocou termo à vida depois de beber anticongelante, em 2005. Na nota, o ex-jogador pediu ainda: "Estudem o meu cérebro".
O autor dos disparos tinha jogado futebol americano no ensino médio na Califórnia há quase duas décadas.
Vídeos de vigilância mostraram o autor a sair de um carro estacionado em dupla fila pouco antes das 18h30 locais (23h30 em Lisboa), carregando uma espingarda, e a atravessar uma praça pública em direção ao edifício.
Em seguida, o homem começou a disparar, disse a comissária de polícia Jessica Tisch, matando um agente que trabalhava na segurança da empresa e atingindo uma mulher que tentava proteger-se.
Dirigiu-se então ao elevador e disparou contra um guarda que se encontrava na mesa de segurança e contra outro homem no átrio, segundo a comissária.
"O nosso agente foi morto na entrada assim que o suspeito entrou no edifício", relatou numa entrevista televisiva. "Parece ter passado primeiro pelo agente e depois virou-se para a direita, viu-o e disparou várias vezes", acrescentou.
Apanhou o elevador até ao 33.º andar, onde ficam os escritórios da empresa proprietária do edifício, a Rudin Management, e matou uma pessoa nesse andar. Em seguida, suicidou-se, disse a comissária.
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