"A implementação destas decisões e planos, que foram recebidos com condenação e rejeição, corre o risco de agravar a situação já terrível no enclave palestiniano, que apresenta todos os sinais de uma catástrofe humanitária", afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo em comunicado.
A declaração foi divulgada na véspera de uma reunião de urgência do Conselho de Segurança da ONU, do qual a Rússia é membro permanente, sobre os planos israelitas de ocupação da principal cidade da Faixa de Gaza.
A decisão do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, de ordenar ao Exército que assuma o controlo da Cidade de Gaza, no norte do território, e deslocar centenas de milhares dos seus habitantes está a provocar uma vaga de protestos e indignação em todo o mundo.
Antes da reunião do Gabinete de Segurança, que aprovou na madrugada de sexta-feira o plano de expansão das operações de Israel no enclave palestiniano, Netanyahu disse à emissora norte-americana Fox News que o objetivo é ocupar toda a Faixa de Gaza, mas que não tencionava mantê-la ou governá-la.
Segundo o chefe do Governo, Israel pretende garantir um "perímetro de segurança" antes de entregar o território ao que designou "forças árabes", que o governarão "sem ameaçar Israel".
Segundo a imprensa israelita, a operação começará pela Cidade de Gaza, cujos habitantes serão deslocados para o sul até 07 de outubro, o segundo aniversário dos ataques do grupo islamita Hamas em Israel, que desencadearam a atual guerra.
Além da derrota e desarmamento do Hamas, da desmilitarização da Faixa de Gaza e do controlo israelita da segurança, Israel reafirmou o princípio do regresso dos reféns ainda em poder dos extremistas palestinianos, 20 dos quais vivos e 30 mortos, para o fim da ofensiva.
Um dos princípios essenciais aprovados pelo Governo de Netanyahu é "o estabelecimento de uma administração civil alternativa que não seja nem o Hamas nem a Autoridade Palestiniana", que governa parte da Cisjordânia.
O Gabinete de Segurança tomou a decisão contra a opinião do comandante das forças armadas, Eyal Zamir, que, segundo vários meios de comunicação israelitas, apresentou um plano alternativo à ocupação de Gaza, que consistia em cercar as cidades e os campos de refugiados e fazer incursões pontuais.
Zamir defendeu que entrar por terra em zonas onde houvesse reféns poderia pô-los em perigo, como já aconteceu no passado.
Em reação às medidas aprovadas na última madrugada, o secretário-geral da ONU, António Guterres, considerou-as uma "escalada perigosa" e que trazem "o risco de agravar consequências já catastróficas para milhões de palestinianos".
A decisão israelita pode conduzir a "mais deslocações forçadas, assassínios e destruição em massa, exacerbando o sofrimento inimaginável da população palestiniana em Gaza", alertou ainda Guterres, através de um porta-voz.
Israel impôs um bloqueio ao território e impediu as organizações internacionais de distribuírem ajuda à população, que tem sido feita exclusivamente desde maio pela Fundação Humanitária de Gaza, criada com apoio das autoridades de Telavive e Washington.
Segundo as autoridades palestinianas, controladas pelo Hamas, mais de 200 pessoas morreram de fome ou subnutrição nas últimas semanas na Faixa de Gaza, das quais cerca de metade eram crianças.
O conflito foi desencadeado pelos ataques liderados pelo Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, onde perto de 1.200 pessoas morreram e cerca de 250 foram feitas reféns.
Em retaliação, Israel lançou uma vasta operação militar no território, que já provocou mais de 61 mil mortos, segundo as autoridades locais, a destruição de quase todas as infraestruturas do enclave e a deslocação de centenas de milhares de pessoas.
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