Durante uma conferência de imprensa, François Bayrou insistiu que é necessário um esclarecimento sobre a situação orçamental e a forma de a corrigir, e que o lugar para o fazer é "o parlamento" e não "na desordem das ruas".
Se o primeiro-ministro não passar o voto de confiança no parlamento - um cenário possível, uma vez que os centristas e conservadores que o apoiam não têm maioria absoluta - terá de se demitir e abrir-se-á uma nova crise governamental.
Consciente de que não dispõe de uma maioria clara, o chefe do Governo francês justificou esta moção de confiança, que abre a porta à queda do executivo e a uma futura instabilidade política, com o argumento de que seria mais arriscado não fazer nada.
"Se tivermos uma maioria, o Governo é confirmado. Se não tivermos, o Governo cai", resumiu.
Bayrou, que está no cargo há apenas nove meses, insistiu que "o risco" de uma nova crise política, depois da que se viveu em 2024 com a convocação de eleições antecipadas, "é a condição para que os franceses tomem consciência" da gravidade da situação.
O primeiro-ministro disse estar disponível para receber "todos os grupos parlamentares", mas avisou que "não vai abandonar" o plano de ajustamento proposto em julho, que inclui o congelamento de algumas prestações sociais, cortes nos programas sociais e, talvez a medida mais controversa, a abolição de dois feriados.
Esta votação irá "consagrar a dimensão do esforço" de quase 44 mil milhões de euros para reduzir o défice público francês e só depois haverá uma "discussão" sobre "cada uma das medidas deste plano de emergência", explicou.
O partido França Insubmissa (LFI, esquerda radical) e o Partido Comunista Francês (PCF) anunciaram, em separado, que iriam votar para "derrubar o Governo".
Por seu lado, o partido de extrema-direita União Nacional declarou que não iria votar a favor da confiança, com o seu presidente, Jordan Bardella, a prever "o fim do Governo".
O objetivo do orçamento de Bayrou é enveredar por uma via de redução do défice público, que fugiu ao controlo nos últimos anos e atingiu 5,8% do produto interno bruto (PIB) em 2024.
Dos 5,4% previstos para 2025, o Governo espera que, com as medidas propostas, o défice desça para 4,6% do PIB em 2026, numa trajetória que permita atingir um défice de 2,8% em 2029, abaixo dos 3% estabelecidos no Pacto de Estabilidade e Crescimento da União Europeia.
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