"Perante a disponibilidade do primeiro-ministro para vir ao parlamento, não é o Partido Socialista que votará contra a vinda do primeiro-ministro", disse Eurico Brilhante Dias, dois dias depois de o secretário-geral do PS, José Luís Carneiro, ter criticado a oportunidade da reunião da comissão permanente e afirmado que o seu partido votaria contra.
Brilhante Dias falava aos jornalistas no parlamento, no final da conferência de líderes que decidiu, por unanimidade, agendar para quarta-feira um debate com o primeiro-ministro sobre os incêndios.
"O Grupo Parlamentar do PS disse claramente ao Governo que esta comissão permanente era extemporânea, disse ao Governo que estavam reunidas todas as condições materiais para que o Governo fosse eficaz no combate aos incêndios e que os deputados do PS estão espalhados pelo território a acompanhar as populações, os bombeiros e os autarcas que têm tido um papel fundamental", afirmou Eurico Brilhante Dias.
Na terça-feira, o secretário-geral do PS, José Luís Carneiro, afirmara que os socialistas iriam votar contra os pedidos apresentados pelas bancadas do Chega e PCP para uma reunião da comissão permanente do parlamento sobre os fogos florestais por ser "contra a chicana política" e ocorrer num momento em que os esforços devem estar na coordenação do combate aos incêndios.
Esta declaração foi feita já depois de o primeiro-ministro se ter manifestado disponível para responder perante o país e o parlamento.
O líder parlamentar do PS recusou contudo que tenha havido alguma mudança de posição e alegou que "o PS não votará, em circunstância alguma, contra a vinda de um membro do Governo ao parlamento".
"Se o Governo quer vir ao parlamento, não será o grupo parlamentar do PS que votará contra a vontade do Governo vir ao parlamento. Consideramos, ainda assim, que essa vontade do Governo é extemporânea, não ajuda ao esclarecimento e mais, não exime o senhor primeiro-ministro das responsabilidades políticas que tem do alheamento e do distanciamento que teve em relação a este assunto e não exime o senhor primeiro-ministro das responsabilidades políticas, que não apenas agora, mas no futuro próximo terá que assumir na Assembleia da República", salientou.
"Também dissemos que estava na mão da maioria, do PSD e do CDS, viabilizar ou não esta comissão permanente, tendo dito o Governo dentro da comissão permanente que esta comissão permanente poderia ter implicações na eficácia do combate aos incêndios", indicou o socialista, acusando estes partidos de terem mudado de posição.
Brilhante Dias acusou também o Chega de ter dado "a mão ao Governo", permitindo que o executivo "desvie as atenções", porque em vez de se "falar do combate aos incêndios e do apoio às populações num dia em que morreu mais um cidadão português", discute-se "a natureza da comissão permanente".
O deputado do PS indicou também, como já tinha sido adiantado pelo secretário-geral do PS, que o partido vai "submeter esta semana no parlamento um projeto-lei para a constituição de uma comissão técnica independente que avalie tudo o que tem corrido de mal no combate aos incêndios".
Brilhante Dias explicou que o objetivo é fazer uma "análise detalhada às circunstâncias, à descoordenação momentânea ou não que tem havido, ao atraso no pedido de apoio do Mecanismo Europeu de Proteção Civil, no atraso na definição daquilo que é um Estado de calamidade ou de situação de calamidade".
[Notícia atualizada às 17h44]
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