Gisèle Pelicot, vítima de múltiplas violações durante uma década, será condecorada na segunda-feira, 14 de julho, com a Ordem Nacional da Legião de Honra - a mais alta distinção oficial francesa.
A informação, noticiada pela imprensa francesa, foi este domingo publicada em Diário Oficial.
Além de Pelicot e de outras figuras, será também condecorada a historiadora Mona Ozouf. Esta distinção é entregue pelo presidente francês.
A Legião de Honra (Légion d'Honneur, em francês) é o grau mais elevado das ordens honoríficas da República Francesa e foi criada em 1802 por Napoleão Bonaparte. A condecoração tem várias categorias e Pelicot será agraciada com o título de Cavaleiro.
De realçar que esta distinção já foi atribuída a antigos ministros e outras ilustres figuras de diversos quadrantes da sociedade.
Recorde-se que a francesa, atualmente com 71 anos, foi drogada e violada durante 10 anos pelo marido, Dominique Pelicot, e por dezenas de homens que este recrutou na Internet, com idades compreendidas entre os 26 e os 74 anos.
Dominique Pelicot, de 72 anos, foi condenado em 19 de dezembro a 20 anos de prisão pelo Tribunal de Avignon, no sul de França, por violação agravada.
Pelicot, que admitiu ter violado e drogado com ansiolíticos a vítima durante anos para a sujeitar a violações por dezenas de desconhecidos recrutados na Internet, foi condenado com a pena máxima em França.
O principal arguido foi também considerado culpado de filmar e possuir imagens tiradas sem o conhecimento de Gisèle, de 72 anos, tendo registos de quase 200 violações, mas também por ter imagens da filha e das noras.
Gisèle Pelicot ornou-se um ícone feminista, sobretudo por ter recusado que este processo extraordinário se realizasse à porta fechada, para que "a vergonha mudasse de lado" e deixasse de pesar sobre os ombros das vítimas de violação.
Os factos ocorreram entre 2011 e 2020, primeiro na região de Paris e, a partir de 2013, na casa para onde o casal Pelicot se mudou quando ambos se reformaram, situada em Mazan, uma aldeia de 6.000 habitantes perto de Avignon.
As provas de todos os crimes foram encontradas pela polícia em mais de 20.000 vídeos e fotografias presentes no computador de Dominique em 2020, depois de ter sido detido por filmar por baixo das saias de mulheres num supermercado.
Os investigadores contaram um total de 72 violadores diferentes, sem conseguir identificar todos.
Outras distinções
Em junho deste ano, recorde-se, Gisèle Pelicot venceu o Prémio da Liberdade, em Caen. Além disso, foi incluída na lista das 100 pessoas mais influentes do ano de 2025 da revista Time. Antes, a publicação norte-americana já a tinha considerado uma das mulheres mais influentes do mundo.
A revista considerou que, "com a sua corajosa luta pública, Pelicot "contribuiu para um processo global de justiça que irá enfraquecer o patriarcado e perturbar a aceitação da violência sexual em todo o mundo".
"Tal como Gandhi desafiou a violência racial na Índia, Gisèle desafiou o patriarcado em todo o lado, incluindo no casamento, e fez avançar os direitos humanos universais", acrescenta a publicação, descrevendo Pelicot como "um símbolo de força e de sobrevivência" e "uma fonte de inspiração para as mulheres e para os homens".
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