"Num mundo em que governos autoritários procuram dotar-se de armas nucleares para garantir a sua sobrevivência, em que as invasões de um país por outro se tornam comuns e em que instituições internacionais como as Nações Unidas perdem progressivamente a sua influência, a tentação dos países de se dotarem de armas nucleares torna-se cada vez mais forte", lamentou a Nobel da Paz de 2023.
A ativista pelos direitos das mulheres, que se expressou por videoconferência a partir do Irão durante uma conferência organizada pelo comité Nobel em Oslo, na Noruega, está em liberdade provisória desde dezembro por motivos médicos e, desde então, tem sido alvo de ameaças com o objetivo de silenciá-la, segundo o comité.
Esta declaração foi feita enquanto cerca de uma centena de países se reuniram em Hiroshima, no Japão, para observar um minuto de silêncio na hora exata em que a bomba atómica foi lançada sobre a cidade há 80 anos, matando imediatamente cerca de 140.000 pessoas.
"Alguns consideram que o nível de conflito e tensão aumentou tanto que talvez já seja tarde demais [...] para impedir uma corrida ao armamento nuclear no Médio Oriente", observou Narges Mohammadi.
"Mas para resolver verdadeiramente esta crise, é necessário um consenso mundial e uma vontade coletiva de atacar as raízes destas tensões e trabalhar para a sua redução", acrescentou.
A vencedora do Prémio Nobel da Paz lamentou também que o programa nuclear iraniano não tenha melhorado as condições de vida da população.
"Hoje, enfrentamos uma grave escassez de eletricidade e de água em todo o país. Regiões inteiras ficam paralisadas durante horas, ou mesmo dias, sem eletricidade nem água. E, entretanto, o regime detém 400 quilogramas [kg] de urânio enriquecido a 60%, que agora se sente obrigado a esconder", denunciou.
Mohammadi foi escolhida como prémio Nobel da Paz em 2023 pela "luta contra a opressão das mulheres no Irão e pela promoção dos direitos humanos e da liberdade para todos".
Repetidamente condenada e presa nos últimos 25 anos pelo compromisso contra o uso obrigatório do véu para as mulheres e contra a pena de morte, Narges Mohammadi passou grande parte da última década presa na prisão de Evin, em Teerão.
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