Uma carta conhecida na quarta-feira, na qual o presidente francês, Emmanuel Macron, pede a suspensão do acordo relativo à isenção de vistos, "isenta a França de todas as suas responsabilidades e atribui toda a culpa à parte argelina", segundo Argel.
"Nada está mais longe da verdade e da realidade", frisou o Ministério dos Negócios Estrangeiros argelino, num comunicado oficial.
Argel garantiu que "não cederá às pressões nem às ameaças" da França e assegurou que responderá de forma recíproca com diplomata franceses, uma decisão que, sublinhou o ministério, notificará Macron por via diplomática e "sem demora".
"Os vistos concedidos aos titulares franceses de passaportes diplomáticos e de serviço estarão sujeitos às mesmas condições impostas pela França aos seus homólogos argelinos", afirmou o executivo argelino.
As relações entre Paris e Argel atravessam, desde o verão de 2024, uma crise sem precedentes após o reconhecimento pela França de um plano de autonomia "sob soberania marroquina" para o Saara Ocidental, território disputado há 50 anos por Marrocos e pelo movimento de libertação Frente Polisário, apoiado pela Argélia.
Desde então, ocorreram vários episódios de tensão agravados pela detenção do escritor argelino-francês Boualem Sansal e, além disso, pela recusa da Argélia em acolher condenados por crimes de terrorismo que já cumpriram a sua pena em França.
As relações entre a França e a Argélia, ex-colónia francesa, passam frequentemente por altos e baixos, em que questões como a migração, a memória da colonização e o peso das comunidades argelinas em território francês continuam a influenciar a dinâmica política bilateral.
Na carta enviada na quarta-feira ao primeiro-ministro francês, François Bayrou, Macron defendeu "maior firmeza" em relação à Argélia, denunciando a sua inflexibilidade na questão migratória e a detenção de dois cidadãos franceses que Paris considera arbitrária.
No que diz respeito ao acordo de isenção de vistos, Argel indicou que "foi a França, e apenas ela, que esteve na origem de tal pedido".
"Ao decidir suspender este acordo, a França oferece à Argélia a oportunidade de anunciar a denúncia pura e simples do mesmo acordo", indicou o comunicado argelino.
Para Argel, desde o início da crise com a França, após a reviravolta sobre o Saara Ocidental, Paris "tem agido através de injunções, ultimatos e intimações".
Na missiva conhecida na quarta-feira, Macron também pede ao Governo francês que utilize a ferramenta "visto-readmissão", que permite suspender a emissão de vistos de longa duração a cidadãos de um país cujas autoridades cooperam "insuficientemente" para readmitir os seus nacionais em situação irregular.
Macron justificou a pressão sobre Argel pela situação de Sansal, condenado a cinco anos de prisão por "atentado à unidade nacional", e do jornalista francês Christophe Gleizes, sentenciado a sete anos de prisão por "apologia ao terrorismo".
Macron garantiu, no entanto, que o seu objetivo "continua a ser restabelecer relações eficazes e ambiciosas com a Argélia".
Hoje, Bayrou declarou que a França "não está num espírito de confronto perpétuo" com Argel e espera "restabelecer um dia relações equilibradas e justas".
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