Numa sessão do órgão da ONU convocada pela presidência rotativa do Panamá para discutir a segurança do tráfego marítimo, a representante interina dos Estados Unidos, Dorothy Shea, destacou os interesses e a influência da China sobre esta via navegável vital para o comércio global, especialmente "nas infraestruturas críticas e nas operações portuárias" do canal, sem fornecer detalhes.
A diplomata não repetiu as afirmações do Presidente norte-americano, Donald Trump, de pretender assumir o controlo do Canal do Panamá.
O embaixador da China na ONU, Fu Cong, retorquiu que o país reconhece a soberania panamiana sobre o canal e a neutralidade da via navegável e rejeitou "as mentiras e manipulações dos Estados Unidos contra a China, que não são mais do que pretextos para procurar o controlo do canal".
A China "opõe-se firmemente à coerção económica e às práticas de intimidação dos Estados Unidos, que insta a pararem de fabricar rumores e mentiras e a causar problemas", lembrou o diplomata.
O Presidente panamiano, José Raúl Mulino, procurou também no Conselho de Segurança defender-se das acusações norte-americanas, sublinhando "a neutralidade" da via navegável, "a melhor e única defesa do canal contra qualquer ameaça, específica ou global".
Esta neutralidade é garantida pelo tratado multilateral que rege a administração do canal, salientou.
A 04 de março e sob pressão norte-americana, o grupo CK Hutchison, da região autónoma chinesa de Hong Kong, anunciou que ia vender todas as participações na Hutchison Port Holdings e na Hutchison Port Group Holdings ao consórcio que inclui a subsidiária da BlackRock Global Infrastructure Partners e a Terminal Investment Limited, ligada à Mediterranean Shipping Company.
Em maio, o codiretor executivo da Hutchison, Dominic Lai, disse aos acionistas que o principal investidor seria a Terminal Investment, cuja empresa-mãe é liderada pelo armador italiano Diego Aponte. A família deste mantém uma relação de longa data com o fundador da Hutchison e homem mais rico de Hong Kong, Li Ka-shing.
O acordo inicial, avaliado em cerca de 23 mil milhões de dólares (19,5 mil milhões de euros), daria ao consórcio o controlo de 43 portos em 23 países, incluindo os portos de Balboa e Cristóbal, situados em cada extremidade do canal.
O negócio, que também necessita da aprovação do Governo panamiano, viu o prazo para negociações exclusivas terminar em 27 de julho.
No final de julho, a CK Hutchison Holdings admitiu procurar um investidor chinês para integrar o consórcio comprador, decisão que poderá agradar a Pequim, mas aumentar o escrutínio dos EUA.
O plano inicial da CK Hutchison Holdings para vender ativos portuários em dezenas de países a um grupo que inclui a gestora de ativos norte-americana BlackRock Inc. agradou ao Presidente dos EUA, Donald Trump, mas terá irritado Pequim e motivado uma revisão pelas autoridades chinesas da concorrência.
O gabinete de Pequim com tutela sobre os assuntos de Hong Kong partilhou algumas críticas, num gesto visto como reflexo da posição da liderança chinesa.
Uma subsidiária da Hutchison opera desde 1997 portos em ambas as extremidades do canal do Panamá.
Após meses de incerteza, alimentada pelas tensões entre Washington e Pequim, a Hutchison anunciou, em comunicado, que terminou o período de negociações exclusivas com o consórcio.
A empresa acrescentou, no entanto, que "o grupo mantém discussões com membros do consórcio, com vista a convidar um investidor estratégico de peso da República Popular da China para integrar o consórcio", referindo-se à inclusão de um parceiro chinês significativo.
A companhia indicou ainda ser necessário alterar a composição do consórcio e a estrutura da transação para que o negócio obtenha aprovação "de todas as autoridades relevantes".
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