A Câmara Municipal do Barreiro foi alvo de buscas da Polícia Judiciária (PJ) na quinta-feira, no âmbito da adjudicação de serviços de comunicação, apurou o Notícias ao Minuto.
A informação sobre as buscas foi confirmada pelo presidente da Câmara do Barreiro, Frederico Rosa, ao jornal local O Setubalense. "Foi-nos solicitado acesso aos registos informáticos e a Câmara Municipal do Barreiro está sempre disponível para colaborar", disse.
Segundo o jornal, em causa está a empresa de comunicação Wonderlevel, que presta serviços a vários municípios. A ligação contratual entre a Câmara do Barreiro e a Wonderlevel surgiu de um concurso público internacional e resultou num contrato de três anos, no valor de 315 mil euros.
Já o Observador revelou que as buscas se inserem no âmbito da Operação Concerto, que tem como principais alvos os empresários de comunicação Luís Bernardo e João Tocha, que são suspeitos de concertarem preços para obter contratos públicos.
Em março deste ano, o Expresso avançou que a Wonderlevel Partners (WLP) e a First Five Consulting (F5C) angariaram metade de todos os contratos com autarquias ganhos pelas 20 maiores agências de comunicação em Portugal entre 2008 e 2024, somando 90 contratos - 45 cada.
O semanário revelou, precisamente, que o maior dos contratos foi o assinado entre a WLP e a Câmara do Barreiro, que teve como objetivo a apresentação de uma estratégia de comunicação e um plano de ação detalhado com o objetivo de "projetar" o município.
No ano passado, o Observador indicava que as duas empresas faturaram cerca de 8,2 milhões de euros em contratos públicos, entre 2012 e 2024. A F5C, de João Tocha, ficou com a maior fatia, enquanto a Wonderlevel, de Luís Fernando, arrecadou cerca de 3,6 milhões de euros em contratos públicos.
E há precisamente um ano, a 4 de julho de 2024, o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) revelou que tinha realizado "cerca de uma dezena de buscas domiciliárias, autorizadas por um juiz de instrução, e mais de duas dezenas de buscas não domiciliárias".
As buscas foram "realizadas em residências da região de Lisboa e em sedes de várias empresas comerciais e públicas, bem como em diversas instalações, sobretudo na região de Lisboa, designadamente de uma universidade, de municípios, de uma freguesia de Lisboa, de serviços municipalizados, de empresas municipais e da secretaria-geral do Ministério da Administração Interna".
"No processo investigam-se matérias relacionadas com contratação pública, existindo suspeitas de que diversas empresas comerciais da área de prestação de serviços de comunicação e marketing participaram num esquema concertado que passava pela apresentação de propostas em concursos públicos, criando falsamente um cenário de aparente concorrência e legalidade mas tendo em vista garantir, à partida, quais seriam as vencedoras das adjudicações", lê-se na nota de 4 de julho de 2024.
Em causa, explicou a procuradoria, estavam factos suscetíveis de constituir crimes de corrupção passiva, corrupção ativa, prevaricação, participação económica em negócio e abuso de poder.
Na altura, Luís Bernardo desvalorizou a Operação Concerto, explicando à Lusa que o que se passou foi "uma diligência de recolha de informação, normal no âmbito de uma investigação judicial que abrange diversas entidades públicas e privadas".
"Foi com total estupefação e surpresa que ouvi um conjunto de especulações, absurdas e fantasiosas, em alguns órgãos de comunicação social, que só podem resultar de motivações que não sejam a de informar", observou, confirmando que não foi constituído arguido neste inquérito: "Termino o dia na mesma situação em que o comecei e continuo totalmente disponível para colaborar com as autoridades".
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