Numa carta enviada no início da semana à direção do PAN, a que a Lusa teve acesso, Nuno Maria Costa, membro da lista da oposição na comissão política nacional, apresentou a demissão da direção e a desfiliação do partido com efeitos imediatos, sendo a sétima saída conhecida de órgãos dirigentes desde as legislativas de maio.
Nuno Maria Costa foi cabeça de lista do PAN nas últimas autárquicas à Assembleia de Freguesias de Oeiras e São Julião da Barra, Paço de Arcos e Caxias e afirma que a "atual liderança deixou de representar as causas e valores" pelos quais aceitou representar o partido nessas eleições.
"No plano ético, o PAN com a atual direção passou a ser um partido pouco recomendável e confiável, deixou de representar o espírito e os princípios fundadores do partido", acrescenta.
O membro demissionário da comissão política nacional do PAN considera que o partido "encontra-se à deriva, sem rumo político claro, sem coerência interna e sem princípios firme", lamentando o baixo número de listas próprias apresentadas nas próximas autárquicas, sinal de "enorme desmobilização e erosão da base de apoio", e o recurso "desesperado a coligações avulsas e oportunistas" que vão do BE ao CDS.
"Como se justifica esta oscilação incoerente? Onde ficam, nestas alianças contraditórias, as 'linhas vermelhas' estabelecidas pela própria direção do partido?", questiona no comunicado.
Nuno Maria Costa critica ainda a "degradação da vida interna" do PAN, apontando-a como "outro sinal grave do colapso do partido", resultado de "incapacidade interna de se renovar com ética, diálogo e visão" e de uma estrutura onde "os militantes com pensamento crítico são sistematicamente afastados ou ostracizados".
Critica também a atual direção por "recusar fazer autocrítica, não reconhecer erros nem maus resultados" e reagir às saídas com "acusações de traição", uma opção que considera "típica de lideranças fracas e inseguras, centradas na sobrevivência e não na construção de um projeto coletivo".
O membro da Assembleia de Freguesia de Oeiras e São Julião da Barra, Paço de Arcos e Caxias - a quem foi retirada a confiança política do PAN no ano passado - critica ainda a postura da estrutura do partido no concelho oeirense, acusando-a de "não querer fazer oposição aos poderes instalados" e de apenas "imitar o PS e o PSD".
Dá ainda conta de que, nestas autárquicas, o PAN falhou um acordo prévio com o movimento Evoluir Oeiras, ao não comparecer na assinatura pública da coligação, tendo acabado por se juntar ao PS, fazendo com que haja militantes do partido nas listas das duas candidaturas.
"Revela o nível de desnorte em que se encontra o partido, se é que ainda se pode chamar ao PAN um partido político", conclui.
Esta é a sétima demissão do partido liderado por Inês de Sousa Real desde as eleições legislativas de 18 de maio. A última conhecida foi da cabeça de lista do PAN por Santarém nas últimas legislativas, Vera Matos, que disse já não se considerar que "uma mais-valia" para o partido.
Após essa demissão, a porta-voz do Pessoas-Animais-Natureza, Inês de Sousa Real, considerou que as saídas foram de pessoas que "não estavam comprometidas" nem com a sua agenda, nem com o partido.
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