O ministro da Agricultura destacou hoje a necessidade de "adequar a oferta à procura" de vinho, nomeadamente no Douro, porque "não podemos estar sempre a destruir vinho", sendo necessárias "soluções para os agricultores que vão ver a produção diminuída".
"O nosso objetivo é ajudar o pequeno produtor e o produtor. Ele não pode ser o perdedor. Não pode andar a trabalhar para aquecer, tem de ver o trabalho valorizado, tem de ter rendimento. Por isso a questão do equilíbrio entre a oferta e a procura é importante", afirmou José Manuel Fernandes em declarações aos jornalistas na inauguração da 28.ª Feira do Alvarinho de Monção, no distrito de Viana do Castelo.
Falando no exemplo da região do Douro, onde os vinicultores se manifestaram na quarta-feira, o ministro admitiu ser preciso "dar apoio para a substituição" feita para reduzir a produção de vinho do Porto.
"Temos de adequar, em algumas regiões, a oferta à procura. Aí temos de ter soluções para esses agricultores que vão ver a sua produção diminuída. Por exemplo na região do Douro", disse.
De acordo com o governante, "não podemos é estar sempre a destruir vinho, a transformar vinho em aguardente que na verdade é álcool para fins industriais".
"Entre 2020 e 2024, em destilação, gastaram-se 54 milhões de euros, é dinheiro dos contribuintes", criticou.
Por outro lado, a região demarcada do Douro precisa de "um conjunto de medidas", sendo que "o enoturismo faz parte delas", a par do "aumento da promoção, da formação e competências".
O ministro sublinhou que, "se o país tivesse tomado as medidas que [o atual Governo] tomou em 2024, não se tinha chegado a esta situação".
"Criamos uma linha de seis milhões de euros para as cooperativas pagarem as dívidas aos produtores, aumentamos a fiscalização, e acabamos com as cativações. Mas isto não chega. Temos de ir mais longe em alguns territórios", defendeu.
Viticultores do Douro manifestam-se na quarta-feira, no Peso da Régua, a poucas semanas de uma vindima que se perspetiva mais negra, para alertar para as dificuldades crescentes e a viabilidade da região demarcada.
"Queremos fazer ouvir bem alto a voz dos viticultores e das suas principais reivindicações, nomeadamente aquelas que se destinam a resolver de uma forma estrutural a crise que está instalada na Região Demarcada do Douro, nomeadamente a proibição da compra de uvas abaixo dos custos de produção", afirmou à agência Lusa Vítor Rodrigues, dirigente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA).
Os agricultores, segundo o responsável, "rejeitam também novos cortes no benefício", ou seja, a quantidade de mosto que cada produtor pode destinar à produção de vinho do Porto.
Os durienses temem uma terceira vindima consecutiva com dificuldades em escoar as uvas ou a sua venda a preços baixos, com alguns a já terem recebido cartas a cancelar encomendas de uvas para este ano.
Para enfrentar a crise, os produtores defendem medidas como escoamento e preços justos para as uvas, a proibição da compra de uvas abaixo dos custos de produção, uma prioridade à aguardente regional na produção de vinho do Porto, mais fiscalização na entrada de mostos e vinhos oriundos de fora da região e a compra, pelo Estado, de 'stocks' excedentários das adegas cooperativas.
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