Questionado sobre o assunto na quinta-feira, na conferência de imprensa que se seguiu ao Conselho de Ministros, o ministro da Presidência contornou a questão, garantindo apenas que Álvaro Santos Pereira era "a melhor escolha" para estar aos comandos do Banco de Portugal. Agora, sabe-se a resposta: o Governo recebeu cinco 'negas' antes de fechar o nome do antigo ministro da Economia para próximo governador do banco central.
A notícia é avançada pelo Negócios, que revela que a primeira escolha do Governo de Luís Montenegro foi o economista Ricardo Reis, que é professor na London School of Economics (LSE), consultor do Banco de Inglaterra e tem sido um dos economistas muitas vezes ouvido pelo Banco Central Europeu (BCE) em questões relacionadas com inflação e impacto da política monetária na economia.
Ricardo Reis não terá propriamente rejeitado o convite, mas terão surgido incompatibilidades resultantes das regras de nomeação para o conselho de administração do supervisor financeiro.
João Cabral dos Santos, economista a trabalhar na Reserva Federal (Fed) de Nova Iorque, e Sérgio Rebelo, atual MUFG Bank Distinguished Professor of International Finance da Kellogg School of Management, onde foi diretor do departamento de Finanças, foram também abordados. Em nenhum dos casos a resposta foi positiva - não é certo se por recusa dos mesmos ou também por incompatibilidades.
O muito apontado Vítor Gaspar, antigo ministro das Finanças de Passos Coelho também esteve 'na calha'. Apesar de estar, como foi dito, prestes a deixar as funções de Diretor do Departamento de Finanças Públicas do FMI, por reforma, terá rejeitado o convite. Sabe o Negócios que Vítor Gaspar terá mesmo aceitado um outro desafio numa outra organização.
A última recusa surgiu por parte de Pedro Machado, antigo diretor dos Serviços Jurídicos e diretor-adjunto do Departamento de Supervisão Prudencial do Banco de Portugal. Desde março de 2020 no Single Resolution Board (SRB), na Bélgica, terá invocado questões pessoais para rejeitar o convite.
Assim sendo, Álvaro Santos Pereira acabou por ser abordado pelo Governo nas últimas duas semanas. O atual economista-chefe da OCDE terá pedido tempo para analisar o convite, já que estava fora e longe da família. Acabou por aceitar - e o seu nome foi anunciado esta quinta-feira, já depois do fim oficial do mandato de Mário Centeno.
O percurso (atribulado) de Centeno
O mandato de Mário Centeno à frente do Banco de Portugal chega ao fim, após cinco anos marcados pela pandemia e pela guerra na Ucrânia e com um final atribulado, com algumas discordâncias com o ministro das Finanças.
Recorde-se que Centeno saiu diretamente do Ministério das Finanças para o banco central, o que causou polémica na altura pela passagem de um cargo para o outro e motivou discussões sobre a possibilidade de determinar um período de nojo para estes processos.
Foi também numa altura em que o país e o mundo se viram a braços com a pandemia, obrigando a um esforço orçamental extraordinário e a medidas por parte do Banco Central Europeu (BCE), onde Centeno passou a ter um assento.
O ex-ministro das Finanças anunciou que iria ser um governador interventivo, num artigo de opinião, e de facto destacou-se por fazer vários alertas aos governos, tendo inclusive começado a escrever artigos em nome próprio, uma inovação no BdP.
Nestes cinco anos, Centeno lidou com vários governos: dois executivos liderados por António Costa, com João Leão e Fernando Medina na pasta das Finanças, e dois de Luís Montenegro, ambos com Joaquim Miranda Sarmento como ministro das Finanças.
Os primeiros partilhavam a cor política de Centeno mas isso não evitou alguma tensão, como quando Centeno e Costa discutiram sobre o orçamento europeu e a regra, introduzida pelo Eurogrupo, que faria com que a dotação de Portugal diminuísse.
Já com Miranda Sarmento teve alguns desentendimentos, sobre tópicos como a fuga dos 'cérebros', a descida do IRC, a garantia pública para a compra de casas por parte dos jovens e as previsões para um défice orçamental.
A decisão de Montenegro nomear Hélder Rosalino para secretário-geral do Governo também causou polémica, com Centeno a dizer que não pagaria o salário do ex-administrador do BdP nesse novo cargo, que acabou por não assumir.
Já esta semana, após o final do mandato de Mário Centeno, o Governo anunciou que vai pedir uma auditoria à Inspeção Geral de Finanças (IGF) sobre o processo de construção do novo edifício do Banco de Portugal.
Em causa está o contrato que o banco central liderado por Mário Centeno celebrou em maio com a Fidelidade para comprar um edifício nos terrenos da antiga Feira Popular, em Entrecampos, Lisboa, para as futuras instalações da instituição, por 191,99 milhões de euros, com transação final prevista para o final de 2027.
O Observador noticiou na segunda-feira, 21 de julho, que o valor das futuras instalações será superior aos 192 milhões de euros, pois o valor refere-se apenas às obras estruturais, estimando o jornal 'online' que o custo total possa subir para 235 milhões de euros.
O jornal noticiou ainda haver alertas de consultores do Banco de Portugal designadamente sobre os licenciamentos e a eventual necessidade de avaliação de impacte ambiental na construção do parque de estacionamento.
A informação levou a instituição a reagir em resposta a questões da Lusa, dizendo que cumpre todas as normas no processo de compra do edifício.
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