Numa carta entregue ao secretário de Estado Marco Rubio e ao enviado especial do Presidente republicano, Steve Witkoff, os senadores afirmam que a Fundação Humanitária de Gaza (FHG), criada em fevereiro com o apoio da administração Trump para distribuir alimentos em Gaza, não soube lidar com o agravamento da crise humanitária.
"Contribuiu para um número inaceitável e crescente de mortes de civis nos arredores dos locais de atuação da organização", argumentam na carta, que mostra uma união entre senadores democratas, que estão afastados do poder em Washington.
O Presidente norte-americano, Donald Trump, manifestou na segunda-feira preocupação com o agravamento da situação humanitária e contrariou a afirmação do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, de que as pessoas não estão a morrer de fome na Faixa de Gaza.
No entanto, Trump não revelou o que pretende fazer perante a situação.
A carta, divulgada hoje pela agência de notícias norte-americana AP, apela a uma "expansão em larga escala" da ajuda a Gaza, canalizada através de organizações com experiência na área e defende que os esforços para um acordo de cessar-fogo entre Israel e o grupo islamita Hamas são "críticos e urgentes".
A iniciativa foi liderada por quatro membros judeus da bancada democrata --- os senadores Adam Schiff, da Califórnia, Chuck Schumer, de Nova Iorque, Jacky Rosen, do Nevada, e Brian Schatz, do Havai --- que também sublinham a urgência de fazer regressar os cerca de 50 reféns, 20 dos quais se acredita estarem vivos, ainda detidos pelo Hamas desde o ataque de 07 de outubro de 2023 a Israel.
As 39 assinaturas na carta demonstram até que ponto os democratas alcançaram alguma unidade numa questão de política externa que os dividiu profundamente enquanto ocuparam a Casa Branca, ou seja, até ao ano passado.
Atualmente pedem o fim da guerra -- sem que o Hamas mantenha qualquer controlo sobre Gaza -- e, a longo prazo, o reconhecimento de dois Estados, um israelita e outro palestiniano.
Entretanto, os republicanos mostram concordar com a forma como Trump tem lidado com a situação e apoiam Israel.
O senador John Cornyn, republicano do Texas que integra a Comissão dos Negócios Estrangeiros do Senado, disse estar satisfeito com a tentativa de Trump de "arbitrar isto, mas os israelitas precisam de recuperar os seus reféns".
Ainda assim, as imagens do agravamento da crise de fome em Gaza parecem fazer vacilar o apoio de alguns membros republicanos do Congresso.
No fim de semana, a deputada de extrema-direita Marjorie Taylor Greene, da Geórgia, que pede frequentemente o fim da ajuda externa, afirmou nas redes sociais: "O que está a acontecer a pessoas e crianças inocentes em Gaza é horrível. Esta guerra e crise humanitária têm de acabar!".
Para Schatz, foi um sinal de que muitos norte-americanos se preocupam com o sofrimento noutras partes do mundo, mesmo depois de Trump ter ganhado as eleições com o lema "America First" e de ter abandonado os programas de ajuda externa dos EUA.
"[Os republicanos] estão a ver imagens de caos, imagens de sofrimento que são causadas pelos Estados Unidos ou que, pelo menos, poderiam ter sido evitadas pelos Estados Unidos", argumentou o senador Schatz, admitindo que "isso está a ter repercussões negativas para o Presidente".
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