"Neste momento, é especialmente importante chamar as coisas pelo nome", disse a representante da Médicos pelos Direitos Humanos Israel (PHRI, na sigla em inglês) Daphna Shochat, numa conferência de imprensa em Jerusalém para apresentação de um relatório do grupo que analisa a situação médica no enclave.
De acordo com a análise, as consequências médicas da ofensiva israelita cumprem os requisitos para que a situação seja considerada como um genocídio segundo a Convenção de Genebra.
Também a diretora executiva da B'Tselem, Yuli Novak, considerou que a realidade "não deixa outra alternativa senão reconhecer a verdade: Israel está a cometer genocídio contra os palestinianos da Faixa de Gaza".
Novak descreveu a sociedade israelita como "capaz de apagar a humanidade das pessoas e perder toda a empatia e obrigações morais" através de um "longo processo de desumanização dos palestinianos".
"É uma combinação aterradora de circunstâncias que nos leva à realidade que todos vemos hoje", adiantou.
A B'Tselem também publicou um relatório, no qual documenta declarações de políticos e altos responsáveis militares a apelar à destruição da sociedade palestiniana em Gaza.
Além disso, a organização, que se concentra em denunciar a ocupação dos territórios palestinianos e os efeitos das políticas israelitas nos seus residentes, alertou que Israel está a replicar na Cisjordânia ocupada aquilo que aprendeu em Gaza, embora em menor escala.
O grupo afirma que existe o risco de o genocídio se propagar a toda a população palestiniana.
Algumas organizações de defesa dos direitos humanos, como a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch, já tinham denunciado que Israel está a cometer genocídio ou "atos genocidas" em Gaza, e a África do Sul levou a acusação ao Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) em dezembro de 2023, num caso que ainda está em curso.
Na sua conferência de imprensa, as organizações não-governamentais (ONG) locais afirmaram que os líderes israelitas são os principais responsáveis pelo que está a acontecer, mas também acusaram a comunidade internacional de não fazer o suficiente para impedir a guerra.
Quase 60.000 palestinianos morreram e dezenas de milhares ficaram feridos durante a ofensiva israelita contra Gaza, que se seguiu aos ataques do grupo islamita Hamas, a 07 de outubro de 2023, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza.
Os ataques desse dia causaram cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de pessoas foram feitas reféns.
A retaliação de Israel incluiu a imposição de um bloqueio de bens essenciais a Gaza, como alimentos, água potável, medicação e combustível.
Apesar de ter recentemente permitido a distribuição de ajuda humanitária, a assistência é dada apenas por uma entidade controlada por Telavive, apoiada pelos Estados Unidos, e em locais específicos.
Essa distribuição é considerada por várias ONG e pela ONU como insuficiente e tem sido marcada por episódios de desespero, caos e de violência por parte das forças israelitas. Mais de mil pessoas foram mortas e vários outros milhares sofreram ferimentos enquanto tentavam obter comida.
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