"O Exército libanês tem a tarefa de desenvolver um plano de implementação para a retirada de armas antes do final do ano e submetê-lo ao Conselho de Ministros para discussão até 31 de agosto", indicou Nawaf Salam, no final de uma reunião do executivo libanês.
Em conferência de imprensa no Palácio Presidencial, o líder libanês explicou que o Conselho de Ministros voltará a reunir-se na quinta-feira para dar continuidade às discussões sobre o plano proposto pelos Estados Unidos para o desarmamento do Hezbollah, que esteve envolvido num conflito aberto com Israel durante mais de um ano até novembro passado.
"Reafirmamos o direito do Líbano à autodefesa em caso de qualquer agressão", afirmou o primeiro-ministro, em alusão à continuação de bombardeamentos israelitas no Líbano e à presença das suas tropas no sul do país, apesar do cessar-fogo em vigor.
A par da sessão do Conselho de Ministros, o líder do Hezbollah rejeitou hoje submeter o grupo xiita a um calendário de desarmamento enquanto Israel prosseguir os seus ataques.
"Nenhum calendário que se supõe ser implementado sob o fogo da agressão israelita pode ser aceite", declarou Naim Qassem num discurso televisivo, no qual exortou o Estado libanês a "desenvolver planos para lidar com a pressão" e a não "privar a resistência [Hezbollah] das suas capacidades e força".
Na sua intervenção, o líder do grupo armado apoiado pelo Irão apelou para a "unidade nacional" contra a pressão de Washington.
"Para construir o Líbano e alcançar a estabilidade, devemos partilhar e cooperar dentro da estrutura da unidade nacional, delinear prioridades que representem toda a realidade libanesa e não nos submetermos à tutela dos Estados Unidos ou de outros", afirmou.
Após quase um ano de troca de tiros ao longo da fronteira israelo-libanesa, Israel lançou uma forte campanha aérea no verão do ano passado, que decapitou a liderança do movimento xiita, incluindo a morte do seu líder histórico, Hassan Nasrallah, nos arredores de Beirute, e de várias outros altos membros da sua hierarquia política e militar.
O Presidente libanês, Joseph Aoun, antigo comandante das forças armadas e eleito em janeiro, após dois anos de um vazio no cargo, elevou o tom na semana passada, ao pedir publicamente o desarmamento do Hezbollah, num contexto de perda de influência política do movimento.
A pressão do líder libanês seguiu-se a uma tentativa de Washington de promover um plano para avançar com as tarefas pendentes de cessar as hostilidades, com foco na eliminação das armas do Hezbollah.
No seu discurso de hoje, Naim Qassem revelou pela primeira vez os detalhes da proposta, que dava ao grupo libanês até 30 dias para entregar as suas armas "simples", como granadas e morteiros, bem como desmantelar 50% das suas infraestruturas.
De acordo com o líder do movimento, após o término desta fase inicial, Israel retirar-se-ia das zonas ocupadas no sul do Líbano, dando lugar a uma segunda fase, de dois a três meses, que culminaria na libertação dos prisioneiros.
"Não concordamos com nenhum novo pacto (...). Não concordamos com nenhum cronograma que seja apresentado para ser implementado sob a égide da agressão israelita", insistiu o clérigo, afirmando que os membros do seu grupo não aceitarão ser "escravos de ninguém".
O Conselho de Ministros, realizado hoje, foi convocado numa fase de crescente pressão dos Estados Unidos e do receio de que a falta de consenso para alcançar o desarmamento do Hezbollah sem mais demoras possa levar em breve a uma nova grande ofensiva israelita contra o Líbano, como ocorreu no final de 2024.
O Hezbollah começou a lançar projéteis contra Israel no dia seguinte aos ataques do seu aliado palestiniano Hamas em território israelita, em 07 de outubro de 2023, que provocaram a guerra em curso na Faixa de Gaza.
Os dois movimentos integram o chamado eixo da resistência patrocinado pelo Irão, que inclui também os Huthis do Iémen.
Após a guerra do ano passado, o Estado libanês procura limitar a posse de armas exclusivamente às forças de segurança oficiais, mas até agora tem favorecido a rendição voluntária do Hezbollah para evitar a eclosão de potenciais conflitos internos.
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