O corpo da jornalista ucraniana, detida quando fazia uma reportagem no território ocupado de Zaporíjia, no sul da Ucrânia, foi devolvido sem alguns dos órgãos internos e apresentava sinais de ter sido brutalmente torturada presumivelmente na prisão da região russa de Rostov.
A parte religiosa do funeral decorreu na catedral de São Miguel, uma das igrejas mais emblemáticas de Kyiv e um tradicional local de despedida para os soldados mortos no combate à invasão russa.
Após uma cerimónia ortodoxa, o carro fúnebre foi transferido para a vizinha praça Maidan, outro ponto de encontro cívico para todos os tipos de manifestações públicas na capital ucraniana, e que em 2013 e 2014 foi palco da revolta popular contra a influência russa e rutura do projeto europeu, levando ao afastamento do então presidente Viktor Ianukovich.
No local, amigos e colegas da jornalista, que tinha 27 anos quando sucumbiu em setembro de 2024 aos maus-tratos e torturas aplicadas pelos carcereiros russos, elogiaram a coragem e os heroicos padrões profissionais e éticos.
Roshchyna foi detida no segundo semestre de 2023 na parte ocupada pela Rússia da região de Zaporijia, onde tinha entrado para relatar a realidade imposta pela invasão iniciada em fevereiro de 2022.
Esta não foi a primeira vez que as forças de ocupação russas detiveram Roshchyna, que já tinha estado presa em Berdyansk (também na região de Zaporijia) nos primeiros dias da guerra.
Apesar disso, a jornalista insistiu em regressar à zona ocupada pela Rússia para relatar o que se estava a passar.
Os restos mortais de Roshchyna foram devolvidos pela Rússia à Ucrânia em fevereiro deste ano, juntamente com os de centenas de combatentes ucranianos, numa das trocas periódicas de corpos entre os dois lados.
A autópsia na Ucrânia demorou meses a ser concluída devido à deterioração do corpo.
Em julho, peritos forenses determinaram que a jovem sofreu fraturas no pescoço e outros ossos, além de hemorragias e outros ferimentos.
O pescoço fraturado e o facto de olhos, cérebro e parte da traqueia terem sido rompidos levam os investigadores ucranianos a acreditar que a causa da morte foi asfixia mecânica.
Na véspera do funeral de Roshchyna, a polícia ucraniana apresentou acusações à revelia contra o antigo chefe da prisão de Taganrog, na região russa de Rostov, onde se acredita que a jornalista tenha sido torturada.
O caso Roshchyna tornou-se num símbolo, tanto da crueldade russa contra os civis ucranianos, como da coragem de muitos cidadãos do país invadido face à ocupação.
No caso da jornalista, esta insistiu em desmentir o bloqueio de notícias dos territórios conquistados pela Rússia, apesar de conhecer por experiência própria os riscos que corria.
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