Uma grande maioria de países ocidentais, sobretudo europeus, a União Europeia (UE) e as Nações Unidas expressaram hoje rejeição ao plano de Israel de ocupar a cidade de Gaza e deslocar os seus habitantes.
Entre esses Estados e organizações figuram Portugal, Alemanha, Bélgica, Espanha, Reino Unido, Países Baixos, Turquia, Austrália, a Comissão Europeia e a ONU, bem como a Arábia Saudita.
O Governo português afirmou-se hoje "profundamente preocupado" com a decisão israelita e pediu a suspensão desse plano e a aplicação de um cessar-fogo.
"O Governo português está profundamente preocupado com o novo plano do Governo de Israel de ocupação de Gaza", afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), num comunicado divulgado na rede social X.
O chanceler alemão, Friedrich Merz, afirmou que esse plano não esclarece como Israel pretende alcançar os objetivos de desarmar o Hamas, conseguir a libertação dos reféns e iniciar rapidamente negociações para um cessar-fogo.
Merz acrescentou que, "nestas circunstâncias, o governo federal não aprovará, até novo aviso, qualquer exportação de material militar que possa ser utilizado na Faixa de Gaza", o que constitui uma decisão sem precedentes para a Alemanha, um dos parceiros europeus mais reticentes em criticar o governo israelita.
Em linha com esta posição, o governo neerlandês também classificou como "um passo errado" o plano militar israelita, considerando que "não contribui de forma alguma" para melhorar a tragédia humanitária no enclave e advertiu que "Gaza pertence aos palestinianos".
Os Países Baixos, tal como a Alemanha, também cancelaram hoje as entregas navais a Israel devido ao "risco de utilização" contra Gaza.
Outro dos países que se mostrou mais contundente na resposta foi a Bélgica, cujo ministro dos Negócios Estrangeiros, Maxime Prévot, convocou hoje a embaixadora de Israel em Bruxelas, Idit Rosenzweig-Abu, para defender "energicamente que se recue nestas intenções".
O ministro dos Negócios Estrangeiros de Espanha, José Manuel Albares, por sua vez, condenou "firmemente" a decisão de Israel que "só provocaria mais destruição e sofrimento" em Gaza e sublinhou que insta a um cessar-fogo permanente, à entrada maciça de ajuda humanitária no enclave e à libertação de todos os reféns que o Hamas mantém em seu poder.
Por sua vez, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, que em julho anunciou que o Reino Unido reconhecerá o Estado da Palestina na ONU se Israel não avançar na ampliação do cessar-fogo, considerou hoje "errada" a decisão e instou o executivo israelita a "reconsiderar imediatamente" a medida.
"Esta ação não contribuirá em nada para pôr fim a este conflito nem para garantir a libertação dos reféns. Apenas provocará mais derramamento de sangue", advertiu Starmer, num comunicado.
Na mesma linha, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, pediu ao governo israelita que "reconsidere" o plano militar e insistiu na libertação de todos os reféns e no "acesso imediato e sem obstáculos" à ajuda humanitária.
Por seu lado, o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, advertiu que os planos de "ocupação militar total" de Israel em Gaza violam o direito internacional e poderão provocar mais mortes e deslocações forçadas, pelo que devem ser "imediatamente interrompidos".
"[Essas ações] vão contra a decisão do Tribunal Internacional de Justiça [TIJ], que estabelece que Israel deve pôr fim à sua ocupação o mais rapidamente possível, bem como contra a solução acordada de dois Estados e o direito do povo palestiniano à autodeterminação", lembrou Türk.
Da Turquia, a rejeição foi igualmente categórica: o governo condenou "da forma mais enérgica possível" o plano de Israel e pediu ao Conselho de Segurança das Nações Unidas uma "resolução vinculativa" para deter a ocupação.
O governo da Austrália, num comunicado, também alertou que a decisão de Israel agravará a "catástrofe humanitária", com a ministra dos Negócios Estrangeiros australiana, Penny Wong, a reiterar que "uma solução de dois Estados é a única maneira de garantir uma paz duradoura".
Também a Arábia Saudita criticou hoje o plano israelita de tomar o controlo da cidade de Gaza e acusou Israel de provocar "fome e uma limpeza étnica" no território palestiniano.
De acordo com o plano do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, a operação para tomar o controlo de Gaza contempla várias fases, a primeira das quais inclui a retirada da população da capital do enclave antes de 07 de outubro, dois anos após o ataque do Hamas.
Israel pretende, depois, estender o controlo militar a toda a Faixa de Gaza e impor um governo de transição árabe onde nem o Hamas nem a Autoridade Nacional Palestina (ANP) estejam representados.
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