O acordo, assinado na sexta-feira em Washington pelo Presidente do Azerbaijão, Ilham Aliev, e pelo primeiro-ministro arménio, Nikol Pashinian, põe fim ao conflito territorial no enclave de Nagorno-Karabakh que opõe os dois países há décadas.
O entendimento prevê a criação de uma zona de trânsito a atravessar a Arménia para ligar o Azerbaijão ao seu enclave de Nakhitchevan, uma reivindicação antiga de Baku.
Hoje, o Presidente iraniano, Massud Pezeshkian, manteve uma conversa telefónica com Pashinian sobre esta via de trânsito, segundo informou a presidência iraniana em comunicado.
"[Pezeshkian] alertou para eventuais ações da parte norte-americana, que poderá prosseguir objetivos hegemónicos na região do Cáucaso sob o disfarce de investimentos económicos e da garantia da paz", referiu a nota informativa da presidência iraniana.
A Arménia e o Azerbaijão disputam há décadas a sua fronteira e o estatuto de enclaves situados nos respetivos territórios.
Os Estados Unidos (EUA) terão direitos de desenvolvimento sobre o corredor, designado "Via Trump para a Paz e a Prosperidade Internacional" (TRIPP, na sigla em inglês), numa região estratégica e rica em hidrocarbonetos.
O Irão opõe-se há muito a este corredor, receando que o isole do Cáucaso e traga presença estrangeira até à sua fronteira.
"Temos de garantir que esta via seja realmente de paz e desenvolvimento, e não uma ferramenta ao serviço de objetivos hegemónicos de estrangeiros", acrescentou Pezeshkian.
Hoje de manhã, numa conferência de imprensa, o porta-voz da diplomacia iraniana, Esmail Baghai, anunciou a visita ao Irão de um vice-ministro dos Negócios Estrangeiros arménio, prevista para terça-feira.
"Não consideramos benéfica para a segurança e estabilidade desta região a intervenção de potências extra-regionais. Expressámos publicamente a nossa oposição a esse respeito. Transmitiremos igualmente essa posição nos próximos contactos com as autoridades arménias", afirmou Baghai.
No sábado, um conselheiro do guia supremo iraniano, o 'ayatollah' Ali Khamenei, declarou que o país não permitirá a criação de um corredor no Cáucaso, denunciando "uma conspiração" que colocará em risco a segurança do Sul do Cáucaso.
No acordo, os dois países comprometeram-se a renunciar a reivindicações territoriais mútuas, a abster-se do uso da força contra a integridade territorial e a realizar negociações para concluir um entendimento sobre a demarcação das fronteiras comuns.
As partes prometeram igualmente abster-se de "intervir nos assuntos internos" do outro país, comprometendo-se ainda a "não estacionar forças de terceiros ao longo das fronteiras comuns" e a impedir que "nenhuma terceira parte utilize os respetivos territórios" para recorrer à força contra a outra.
Por outro lado, decidiram "abordar os casos de pessoas desaparecidas e de desaparecimentos forçados" durante o conflito armado "através da troca direta de informações ou em cooperação com as organizações internacionais competentes".
Baku e Erevan acordaram ainda que "não adotarão, incentivarão ou participarão de qualquer forma em ações hostis" contrárias ao acordo.
"As partes procurarão resolver qualquer divergência relativa à interpretação ou aplicação do presente acordo mediante consultas diretas", segundo o texto do acordo firmado em Washington, ao lado do Presidente norte-americano, Donald Trump.
O pacto dissolve oficialmente o Grupo de Minsk da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), responsável por mediar uma solução para o histórico conflito de Nagorno-Karabakh, epicentro das tensões entre os dois países, e estipula o levantamento, por parte dos Estados Unidos, das restrições impostas em 1992 à cooperação militar com o Azerbaijão.
Também hoje a alta representante da União Europeia (UE) para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, Kaja Kallas, felicitou a Arménia e o Azerbaijão pelo recente acordo e ofereceu o apoio do bloco europeu para a plena aplicação do pacto.
Num contacto com os ministros dos Negócios Estrangeiros dos dois países, a chefe da diplomacia europeia felicitou-os pelo avanço alcançado e "ofereceu o apoio da UE para a aplicação do acordo, para os investimentos em conectividade e para a normalização plena entre a Arménia e o Azerbaijão", segundo informou o Serviço de Ação Externa da UE.
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