"A esmagadora maioria dos websites das universidades não são acessíveis a todas as pessoas, sendo que basta falhar um dos critérios para dizemos que algo não é acessível", revelou Carlos Duarte, investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, uma das instituições envolvidas neste projeto europeu levado a cabo por Portugal, Polónia e Irlanda.
Carlos Duarte explicou que analisaram as condições de acessibilidade em 171 universidades de 38 países europeus e concluíram que cerca de "95% das instituições não cumprem" a nova Lei Europeia da Acessibilidade, em vigor desde o passado fim de semana.
Os investigadores encontraram mais falhas nas instituições do sul e do leste, sendo que Portugal acabou por se destacar pela positiva como uma das regiões do sul com melhores resultados.
Numa escala de zero a 100, a média das universidades do sul da Europa foi de 84,1 pontos e "das seis universidades portuguesas analisadas cinco estavam acima dessa média", revelou Carlos Duarte, coordenador da equipa portuguesa integrada na Ação COST LeadMe, uma plataforma europeia de académicos e decisores políticos.
A Universidade do Porto e o ISCTE, em Lisboa, foram as portuguesas mais bem classificadas, ambas com 96 pontos. As universidades de Lisboa, Coimbra e a Nova também ficaram acima da média das instituições do sul. Apenas a Católica ficou abaixo, com 77 pontos, disse à Lusa o investigador.
A média de todas as universidades europeias foi de 87,36 pontos, sendo que no norte o score médio chegou aos 95,9 e no leste desceu para os 83,1 pontos, já que a presença de conteúdos acessíveis é mais reduzida, os recursos humanos e tecnológicos são escassos e o apoio institucional é, muitas vezes, inexistente.
As principais falhas identificadas prenderam-se com o fraco contraste de cores nos websites universitários, o que acaba por dificultar, por exemplo, a leitura por parte de pessoas com deficiência visual.
A rotulagem vaga ou ambígua, que pode criar confusão na navegação para estudantes com limitações cognitivas foi outro dos problemas encontrados neste estudo que identificou ainda websites com uma "estrutura de navegação pouco clara, tornando difícil o acesso a conteúdos essenciais por estudantes com deficiências cognitivas ou outras".
A entrada em vigor da Lei Europeia da Acessibilidade, no passado dia 28 de junho, vem colocar pressão adicional sobre as instituições de ensino superior, uma vez que agora todos os serviços e produtos digitais -- incluindo websites, plataformas de e-learning e comunicações online -- têm de cumprir normas rigorosas de acessibilidade.
As universidades que não se adaptarem arriscam sanções legais, perdas de financiamento e danos reputacionais. Segundo Carlos Duarte, os países do norte têm penalizações muito superiores em relação aos do sul, mas em ambos os casos tem de ser o "utilizador final a apresentar queixa para dar origem a uma multa", disse o investigador.
"Esta investigação é um alerta claro. As universidades precisam de agir já. É uma questão de equidade, inclusão e cumprimento da lei. O nosso estudo reforça a urgência de uma resposta coordenada - é necessário mais financiamento, formação técnica e planeamento estratégico para garantir que nenhum estudante fique para trás no acesso ao ensino superior", destacou ainda o investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
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