Cidade humanitária? "Limpeza étnica", diz ex-primeiro-ministro israelita

Ehud Olmert acusa o atual ministro da defesa israelita de querer construir um campo de concentração no sul de Gaza, depois de serem propostos planos para uma "cidade humanitária" para alojar a população palestiniana.

Ehud Olmert

© Bernd von Jutrczenka/picture alliance via Getty Images

Carolina Pereira Soares
14/07/2025 08:31 ‧ há 2 horas por Carolina Pereira Soares

Mundo

Israel/Palestina

Ehud Olmert, primeiro-ministro de Israel de 2006 a 2009, acusa o atual ministro da defesa israelita, Israel Katz, de querer construir um campo de concentração em Rafah, no sul da Faixa de Gaza. 

 

"Desculpem, mas é um campo de concentração", disse, referindo-se ao plano para uma "cidade humanitária", proposto por Katz na semana passada, que visa construir sobre as ruínas da cidade. Após meses de uma retórica israelita violenta e de diversos ministros terem pedido uma "limpeza" do enclave, Olmert considera que a proposta de uma "cidade humanitária" não é credível.

Quando questionado sobre os planos, o ex-chefe de estado israelita disse, em entrevista ao The Guardian, que a partir do momento em que o povo palestiniano estivesse dentro desse campo ninguém teria permissão para sair, sem ser para outros países.

"Se os palestinianos forem deportados para esta nova 'cidade humanitária', então podemos dizer que isto faz parte de uma limpeza étnica”, acrescentou Olmert, afirmando que esta é uma "interpretação inevitável" de qualquer tentativa de criar um campo para centenas de pessoas.

O antigo primeiro-ministro já se tinha pronunciado quanto à ofensiva israelita na Faixa de Gaza, considerando que Telavive está a cometer crimes de guerra tanto no enclave como na Cisjordânia. A construção do alegado campo seria, no entanto, uma escalada no conflito.

"Quando constroem um campo onde planeiam ‘limpar’ mais de metade de Gaza, então a compreensão inevitável da estratégia disto é que não é para salvar os palestinianos. É para os deportar, para os empurrar e para os deitar fora. Não há outro entendimento que eu tenha, pelo menos," disse Olmert ao The Guardian.

Até agora, o antigo primeiro-ministro afirmava que Israel não estava a realizar uma limpeza étnica e que a evacuação de certas áreas para a proteção dos cidadãos é legal sob o direito internacional.

A semana passada, o ministro da defesa israelita ordenou o início de projetos que visam a construção de uma "cidade humanitária" nas ruínas no sul de Gaza, para, numa fase inicial, alojar seiscentas mil pessoas e, eventualmente, toda a população palestiniana. O governo de Israel defende que o objetivo deste plano é proteger a população palestiniana. 

Os órgãos de comunicação israelitas noticiam também que a recusa de Telavive de sair das áreas para onde este projeto está pensado é um dos pontos mais discutidos durante as negociações de cessar-fogo entre Israel e o Hamas.

A entrevista de Ehud Olmert ao The Guardian aconteceu no dia do funeral de dois homens palestinianos na Cisjordânia ocupada, um deles um cidadão norte-americano, ambos assassinados por colonos israelitas. São as mortes mais recentes de uma onda de violência que já reina há dois anos e leva cada vez mais palestinianos a abandonarem a região.

Telavive descreve os ataques como frutos do extremismo, mas Olmert defende que estes grupos não conseguiriam operar de forma consistente por todo o território se não tivessem uma rede de apoio e proteção das autoridades israelitas nos territórios palestinianos ocupados. E situações como estas, aliadas à crise humanitária na Faixa de Gaza, estão a alimentar uma indignação mundial cada vez maior contra, disse Olmert. 

"Nos Estados Unidos há cada vez mais uma expressão de ódio contra Israel", afirma Olmert. "Fazemos um desconto a nós próprios e dizemos: ‘Eles são antissemitas’. Não acho que sejam apenas antissemitas, acho que muitos deles são anti-Israel por causa do que veemr na televisão e do que veem nas redes sociais."

Inicialmente a favor da campanha contra o Hamas, no seguimento dos ataques de 7 de outubro de 2023, o antigo primeiro-ministro diz estar agora "envergonhado e destroçado" quanto à atual ofensiva israelita no enclave palestiniano.

Leia Também: Israel mata dois jornalistas de Gaza e familiares de um deles

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