"Filhos do pecado": Começam escavações pelas 796 crianças 'esquecidas'

Entre 1925 e 1961, a St Mary's Mother and Baby era para onde mulheres grávidas, não casadas, eram enviadas para darem à luz. Os bebés eram considerados “filhos do pecado”. Há quase 800 corpos.

Escavações em Tuam
AnteriorSeguinte

© REUTERS/Clodagh Kilcoyne

Carolina Pereira Soares
14/07/2025 12:13 ‧ há 4 horas por Carolina Pereira Soares

Mundo

Irlanda

As escavações para recuperar os corpos de quase 800 crianças na St Mary’s Mother and Baby Home, em Tuam, na Irlanda têm início esta segunda-feira.

 

Entre 1925 e 1961, a St Mary's Mother and Baby era para onde mulheres grávidas, não casadas, eram enviadas para darem à luz. Os bebés eram considerados “filhos do pecado”, mas até entre eles eram discriminados: os mais bonitos e vigorosos eram entregues para adoção; os restantes eram mal alimentados e sofriam de abuso constante.

Em ambas as escolas da aldeia eram relegados para o fundo da sala onde a possibilidade de ser sentado ao lado de um deles era usada como uma ameaça para os alunos que se portavam mal.

Muitos dos “filhos do pecado” morriam de subnutrição ou tuberculose e eram enterrados na vala comum que só agora, 100 anos depois, começa a ser desconstruída.

As mães destas crianças também não passavam incólumes. Eram trancadas na instituição durante um ano por ordem do estado irlandês e da Igreja Católica, que, à época, detinha uma grande influência sobre toda a sociedade. Findado esse ano, muitas mulheres eram enviadas para outras instituições semelhantes.

Das 796 crianças que morreram, acredita-se que apenas duas tenham tido direito a um funeral. 

As mortes foram ignoradas durante décadas, até Catherine Corless, uma historiadora local, descobrir os certificados de óbito das quase 800 crianças, o que levou a uma comissão judicial e a um pedido de desculpas estatal, assim como, a uma promessa de escavar o local.

A historiadora diz estar “aliviada” com o começo das operações. “É uma alegria enorme para mim e para as famílias que estiveram à espera, com esperança de que vão conseguir encontrar os seus familiares mais jovens,” afirma Corless.

Mas já em 1975 (três anos depois de o local passar a ser um conjunto habitacional) tinha havido indícios de que algo mais se passava na instituição, quando restos mortais foram descobertos no St. Mary’s. Na altura, as autoridades tinham descartado os cadáveres como resquícios da Grande Fome, que afetou a Irlanda entre 1845 e 1852.

A escavação estava prevista começar em 2019, mas só em 2022 foi aprovada a lei que permite dar início ao projeto.

A operação conta com 18 pessoas (entre eles arqueólogos, antropólogos e outros especialistas forenses não só do Reino Unido, mas também da Colômbia, Austrália, Espanha e Estados Unidos) e deve demorar cerca de dois anos a ser concluída. Tem como objetivo recuperar os corpos das crianças enterradas no St. Mary’s, identificá-los, entregá-los às respectivas famílias e dar-lhes um funeral digno.

O St. Mary’s era apenas uma das várias instituições na Irlanda que implementavam as mesmas regras. A comissão de inquérito relatou, em 2021, que entre 1922 e 1998 foram acolhidas 56 mil mulheres solteiras e 57 mil crianças em 18 desses lares. Estima-se que 9 mil crianças tenham morrido nestas instituições.

Leia Também: Seleção portuguesa de râguebi 'humilhada' frente à Irlanda

Partilhe a notícia

Escolha do ocnsumidor 2025

Descarregue a nossa App gratuita

Nono ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com
App androidApp iOS

Recomendados para si

Leia também

Últimas notícias


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas