O ministro da Informação libanês, Paul Morcos, anunciou no Palácio de Baabda, nos arredores de Beirute, que o executivo "concluiu a discussão do primeiro ponto da sua sessão e aprovou os objetivos estabelecidos na introdução do documento dos Estados Unidos", respeitante ao cessar-fogo entre Israel e o Hezbollah, em vigor desde novembro, e que prevê o desarmamento do grupo xiita apoiado pelo Irão.
"Concordámos terminar a presença armada em todo o país, incluindo o Hezbollah, e mobilizar o Exército libanês nas zonas fronteiriças", afirmou Morcos em declarações divulgadas pela agência de notícias oficial ANN.
O plano já foi rejeitado pelo Hezbollah e hoje quatro membros xiitas do executivo abandonaram a reunião em protesto contra o desarmamento do grupo libanês.
Os quatro ministros incluem membros do Hezbollah, do partido aliado Amal, bem como o político xiita independente Fadi Makki.
Questionado pelos meios de comunicação social, o ministro da Informação relatou que se tentou "por vários meios" convencer os governantes a permanecer na sessão, "mas decidiram sair".
Fadi Makki, ministro do Desenvolvimento Administrativo, justificou que "não podia assumir a responsabilidade de tomar uma decisão desta magnitude", mas, apesar da sua relutância, defendeu que "qualquer objeção ou reserva deve ser registada dentro do quadro constitucional e na reunião do executivo".
O documento, proposto pelo enviado norte-americano, Tom Barrack, propõe que o Líbano tome "as medidas necessárias para alagar a sua plena soberania a todo o seu território", e alcançar "o monopólio sobre as decisões relativas à guerra e à paz (...) e sobre as armas nas mãos do Estado".
Além disso, aborda a sustentabilidade do cessar-fogo e pretende "encerrar gradualmente a presença armada de todas as fações não estatais, incluindo o Hezbollah".
A proposta contempla também o envio de unidades do Exército libanês para zonas-chave fronteiriças e regiões do interior, a retirada de Israel do Líbano e o compromisso de se resolver as questões pendentes através de "negociações indiretas e meios diplomáticos", a par do regresso dos residentes às localidades afetadas pelo conflito.
O texto defende ainda a demarcação "permanente e visível" da fronteira entre o Líbano, Israel e a Síria.
Após a aprovação da sua proposta, o enviado dos Estados Unidos felicitou o Líbano por uma decisão que considera "histórica, audaz e justa".
Numa mensagem na rede social X, Tom Barrack elogiou os governantes libaneses porque "finalmente implementaram a solução 'uma nação, um Exército' para o Líbano".
Washington defende a realização de uma conferência para reconstruir a economia libanesa, "na implementação da visão de [Presidente norte-americano] Donald Trump de tornar o Líbano num país próspero" e fornecer "apoio internacional adicional às forças de segurança libanesas".
O Líbano está mergulhado numa crise profunda desde 2019, que atirou uma grande parte da população para a pobreza, e uma desvalorização sem precedentes da sua moeda.
A crise foi agravada pela explosão no Porto de Beirute no ano seguinte, pela pandemia de covid-19 e, no ano passado, pelas hostilidades entre Israel e o Hezbollah.
A par do Hamas na Palestina e dos Huthis do Iémen, o Hezbollah constitui o chamado eixo da resistência apoiado por Teerão, e que se envolveu em hostilidades militares com Israel, logo após o início da guerra na Faixa de Gaza, em outubro de 2023.
Após quase um ano de troca de tiros ao longo da fronteira israelo-libanesa, Israel lançou uma forte campanha aérea no verão do ano passado, que decapitou a liderança do movimento xiita, incluindo a morte do seu líder histórico, Hassan Nasrallah, nos arredores de Beirute, e de várias outros altos membros da sua hierarquia política e militar.
No seguimento do cessar-fogo alcançado em novembro, o Governo libanês tem procurado concentrar todo o armamento do país nas forças de segurança oficiais, mas até agora estava a favorecer entregas voluntárias de armas por receio de uma escalada de violência interna.
Sob pressão dos Estados Unidos e entre receios de uma intensificação dos ataques israelitas no Líbano, o Governo dedicou uma primeira reunião ao assunto na terça-feira e encarregou o Exército de preparar um plano para desarmar o movimento xiita até ao final do ano.
Em reação, o Hezbollah, que saiu militar e politicamente bastante enfraquecido dos intensos ataques israelitas, acusou o Governo de cometer um "pecado grave" e ameaçou continuar a agir como se a decisão "não existisse".
O Hezbollah considera que a decisão do seu desarmamento "atinge a soberania do Líbano" e "dá carta-branca a Israel para minar a sua segurança, geografia, política e existência futura".
Apesar do cessar-fogo em vigor, Israel continua a visar posições e alvos alegadamente do Hezbollah e ameaça voltar a intensificar as suas operações militares caso o movimento não se desarme.
Os mais recentes ataques israelitas mataram hoje pelo menos seis pessoas e feriram outras dez no leste do Líbano, segundo o Ministério da Saúde de Beirute.
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