Taiwan vai simular uma guerra total com a China em manobras militares e de defesa civil, que começarão na próxima semana e decorrerão num contexto de fortes tensões entre Taipé e Pequim, informaram hoje autoridades da ilha.
Os exercícios anuais Han Kuang, que começarão no próximo dia 9 de julho, terão a duração de dez dias e nove noites e contarão com a participação de cerca de 22.000 reservistas, o que constitui uma duração e um destacamento sem precedentes para este tipo de manobras.
Em conferência de imprensa, o major-general Tung Chi-hsing, chefe do departamento de planeamento de operações conjuntas do Ministério da Defesa Nacional (MDN) de Taiwan, explicou que os exercícios deste ano serão divididos em três fases: respostas a táticas na "zona cinzenta" - ações coercivas que não constituem uma agressão armada direta -, mobilizações defensivas de emergência e "guerra total".
Durante esta última etapa, que decorrerá de 13 a 18 de julho, as Forças Armadas ensaiarão diferentes cenários de combate, incluindo a defesa contra comboios de desembarque do Exército chinês e "operações de resistência ordenada" contra incursões terrestres.
As autoridades também organizarão simulacros de defesa civil entre 15 e 18 de julho, durante os quais serão ativados alarmes antiaéreos e realizadas operações de evacuação e controlo de tráfego nas principais cidades da ilha, incluindo a capital, Taipé.
"Se se quer a paz, é preciso estar-se preparado para a guerra. O Exército nacional continuará a aplicar as lições aprendidas para melhorar a sua estrutura, equipamento e preparação geral, demonstrando com factos a sua determinação e capacidade de defesa", sublinhou o ministério, em comunicado.
Numa mensagem dirigida aos soldados para levantar o moral antes dos exercícios, o líder taiwanês, William Lai, afirmou que, nos últimos anos, Taiwan se preparou constantemente para guerras "sem fumo de pólvora", como as tentativas de infiltração e a disseminação de desinformação por parte de Pequim.
"No entanto, não há motivo para preocupação: a atual democracia, liberdade e prosperidade de Taiwan foram construídas passo a passo pelo seu povo, superando os seus desafios com coragem, convicção e ação", afirmou Lai, tachado de "independente" e "agitador" pelas autoridades chinesas.
O líder da ilha sublinhou que, no passado, o principal objetivo do treino militar era "ganhar uma guerra", mas a abordagem atual "já não se limita a derrotar o inimigo, mas também como alcançar uma defesa bem-sucedida" e "como reconstruir o país após uma crise e voltar o mais rapidamente possível à normalidade".
Esta nova edição das manobras Han Kuang será realizada num momento de crescentes atritos entre a China e Taiwan, uma ilha governada de forma autónoma desde 1949 e considerada pelas autoridades de Pequim como uma "parte inalienável" do seu território.
Nos últimos anos, a China intensificou a sua campanha de pressão militar contra Taiwan, organizando manobras militares nas proximidades da ilha com cada vez mais frequência e aumentando as incursões dos seus aviões de guerra perto do território insular.
O governo de Taiwan, liderado pelo Partido Democrático Progressista (PDP) desde 2016, defende que a ilha já é, de facto, um país independente e sustenta que o seu futuro só pode ser decidido pelos seus 23 milhões de habitantes.
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