"A partir de hoje, voltamos a encerrar as delegações do partido Renamo a todos os níveis, até que se cumpra com as nossas exigências que, aliás, são estatutárias. Ou seja, o cumprimento do estatuto do partido, convocando o mais breve possível a convocação e realização do Conselho Nacional alargado aos combatentes e outros quadros", afirmou João Machava, porta-voz do grupo de antigos guerrilheiros desmobilizados da Renamo, em conferência de imprensa, em Maputo.
Acrescentou que o dia do encerramento das sedes "cabe a cada província" decidir.
Os antigos guerrilheiros da Renamo anunciaram em 23 de junho a reabertura das sedes do partido, encerradas em protesto nas semanas anteriores contra a liderança do presidente do partido, Ossufo Momade, dando 20 dias para que a direção avance com o Conselho Nacional, o que não aconteceu até agora, sob ameaça de voltarem a tomar estes espaços.
A Renamo chegou a anunciar anteriormente a realização do primeiro Conselho Nacional de 2025 - estatutariamente tem de organizar dois por ano - em 07 e 08 de março, que foi depois adiado, sem nova data. A direção do partido já reconheceu anteriormente a obrigatoriedade de realizar dois conselhos nacionais por ano, mas afirma que não é obrigatório que aconteçam em semestres diferentes.
Hoje, João Machava garantiu que a retoma desta ação de protesto é contra a ausência de pronunciamentos da direção do partido, garantindo que "não houve nenhum pronunciamento nem aproximação" e acrescentando que dentro de sete dias será anunciado "um outro passo", sem avançar pormenores.
Tal como delegações e sedes em todo o país, nas últimas semanas, a sede nacional e o gabinete de Momade foram encerrados e ocupados por antigos guerrilheiros em protesto, entre 15 e 28 de maio, até serem retirados a tiro e gás lacrimogéneo pela Unidade de Intervenção Rápida, com mais de 50 desmobilizados a serem levados pela polícia moçambicana.
Durante o anúncio de hoje, o grupo apelou ao Governo, e à polícia, para que "não se intrometa nos assuntos internos do partido", alertando que qualquer interferência poderá levar a "atitudes menos desejadas".
"Queremos instar mais uma vez ao Governo para que não se intrometa nos assuntos internos do partido, pois esta atitude nos irá obrigar e ou empurrar a tomar atitudes menos desejadas. É importante que o Governo entenda que nós também somos pessoas e, como tal, também sentimos dor, e esta dor nos levará a uma reação e podem ter certeza que ninguém vai gostar", advertiu Machava.
Alvo das críticas dos antigos guerrilheiros, Ossufo Momade assumiu a presidência da Renamo em janeiro de 2019, após a morte de Afonso Dhlakama (1953 --2018), e foi reeleito para o cargo em maio de 2024, num processo fortemente contestado internamente.
Em causa está a crise que se vive na Renamo, conduzida atualmente por antigos guerrilheiros que exigem a demissão de Ossufo Momade por alegada "má gestão", falta de pagamento de pensões e subsídios e falta do fundo de funcionamento da formação política.
A Renamo perdeu o estatuto da segunda força política mais votada nas eleições gerais de 09 de outubro, passando de 60 deputados, que obteve nas legislativas de 2019, para 28 parlamentares.
Momade foi candidato presidencial nas eleições gerais de 09 de outubro de 2024, obtendo 6% dos votos, o pior resultado de um candidato apoiado pelo partido, que foi a principal força de oposição em Moçambique desde as primeiras eleições em 1994.
Durante 16 anos, Moçambique viveu uma guerra civil, que opôs o exército governamental e a Renamo, tendo terminado com a assinatura do Acordo Geral de Paz, em Roma, em 1992, entre o então Presidente, Joaquim Chissano, e Afonso Dhlakama, líder histórico da Renamo, abrindo-se, assim, espaço para as primeiras eleições, dois anos depois.
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