Metade das crianças no sul de Angola sofre desnutrição crónica

Quase metade das crianças com menos de cinco anos no sul de Angola sofre de desnutrição crónica e apenas 3,5% têm uma dieta minimamente aceitável, segundo um estudo que alerta para o agravamento da insegurança alimentar na região.

Pequenos engraxadores angolanos batalham pelo pão para sustentar avó de 90 anos

© Lusa

Lusa
14/07/2025 17:33 ‧ há 3 horas por Lusa

Mundo

Angola

"A desnutrição crónica global na região classifica-se como 'muito alta', apresentando um valor de 47,1%, sendo superior na Huíla e no Cunene", refere-se no estudo publicado na Acta Portuguesa de Nutrição por Isa Viana, Carla Lopes, Duarte Torres e Rita Pereira Luís (Universidade do Porto), em coautoria com Ketha Francisco (Ministério da Saúde de Angola) e Liliana Granja e Sofia Rodrigues (FRESAN/Camões, I.P.).

 

A análise, baseada em inquéritos populacionais realizados nos últimos 15 anos, nas províncias do Cunene, Huíla e Namibe, mostra uma tendência preocupante: "globalmente, nos últimos 15 anos, no sul de Angola, o estado nutricional e as práticas alimentares de crianças com menos de 5 anos aparentam ter piorado".

Segundo o estudo, "a desnutrição crónica global na região classifica-se como 'muito alta', apresentando um valor de 47,1%, sendo superior na Huíla e no Cunene".

A prevalência da desnutrição aguda global (DAG) também continua elevada, com valores que, em 2021, atingiram 19,3% na Huíla e 12,4% no Cunene, de acordo com o critério combinado de avaliação.

"A prevalência de DAG no sul de Angola, estimada mais recentemente no AVSAN 2021 [Avaliação da Vulnerabilidade e Segurança Alimentar e Nutricional realizada em Angola em 2021] (9,0%), encontra-se cerca de duas vezes acima do 'target' [meta] definido pela OMS [Organização Mundial da Saúde] nos Global Nutrition Targets 2025 (< 5%)", apontam as autoras.

Por outro lado, apenas 3,5% das crianças da região têm uma alimentação considerada adequada, segundo os critérios da Dieta Mínima Aceitável, que avalia se as crianças entre os 6 e os 23 meses consomem alimentos de, pelo menos, quatro grupos alimentares e fazem o número mínimo de refeições recomendado.

"A diversidade e a frequência alimentar das crianças dos 6 aos 23 meses aparentam um decréscimo", apontam os investigadores.

Apesar da tendência negativa nos principais indicadores nutricionais, o estudo destaca um dado positivo: o aleitamento materno exclusivo até aos 6 meses apresenta valores elevados, atingindo 73,1% no Cunene e 63,2% na Huíla, superando a meta de 50% definida pela OMS para 2025.

O estudo associa a situação à insegurança alimentar severa provocada pela seca prolongada e defende medidas urgentes, recomendando a "monitorização sistemática do estado nutricional e a avaliação do consumo alimentar individual das crianças na região".

As autoras defendem também o reforço da formação de profissionais de saúde em nutrição e o investimento em infraestrutura especializada.

"Ainda que já existam estratégias políticas e programas de intervenção para a mitigação da desnutrição infantil e da insegurança alimentar, os resultados evidenciam que estas problemáticas continuam a ser um desafio", concluem.

A revisão científica foi realizada no âmbito do FRESAN -- Programa de Fortalecimento da Resiliência e da Segurança Alimentar e Nutricional em Angola, uma iniciativa do Governo angolano financiada pela União Europeia com 65 milhões de euros.

Implementado entre 2018 e 2025, o programa visou combater a fome e a pobreza nas províncias do Sul, em particular nas zonas mais afetadas pela seca.

Leia Também: Número de crianças com desnutrição aguda no Sudão sobe para 40 mil

Partilhe a notícia

Escolha do ocnsumidor 2025

Descarregue a nossa App gratuita

Nono ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com
App androidApp iOS

Recomendados para si

Leia também

Últimas notícias


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas