"A prática de Israel de rotular os jornalistas como militantes sem provas credíveis levanta sérias questões sobre a sua intenção e respeito pela liberdade de imprensa", disse a diretora regional do CPJ para o Médio Oriente e Norte de África.
Sara Qudah acrescentou que os jornalistas são civis e nunca devem ser alvo de perseguição, apelando para que os envolvidos nos assassinatos sejam responsabilizados, segundo a agência de notícias espanhola EFE.
Os jornalistas foram mortos no domingo num ataque de precisão que atingiu a tenda que ocupavam junto ao hospital Al Shifa, na cidade de Gaza.
Morreram no ataque os correspondentes da televisão do Qatar Al Jazeera Anas al-Sharif e Mohamed Qraiqea, os fotojornalistas Ibrahim Zaher e Moamen Aliwa, o assistente Mohamed Nofal, e o jornalista Mohamed Al Khalidi do meio de comunicação palestiniano Sahat.
Anas al-Sharif, 28 anos, que Israel declarou como terrorista, era um dos principais correspondentes que cobria diariamente o conflito em Gaza.
O CPJ, com sede em Nova Iorque, já tinha manifestado preocupação com a segurança de Anas al-Sharif em 24 de julho.
Denunciou na altura que o jornalista estava "a ser alvo de uma campanha de difamação militar israelita", que considerou "um trampolim para o seu assassinato".
Na mesma altura, o porta-voz do exército israelita em língua árabe, Avichay Adraee, intensificou os ataques nas redes sociais contra Anas al-Sharif.
Acusou-o, sem provas, de ser membro do Hamas, depois de o jornalista ter chorado em direto quando fazia uma reportagem sobre a fome em Gaza.
O exército israelita admitiu ter matado os jornalistas num bombardeamento de precisão e acusou Anas al-Sharif de estar ligado ao Hamas, apresentando como prova dois documentos cuja origem não detalhou e que não podem ser verificados, segundo a EFE.
De acordo com o CPJ, desde o início da ofensiva israelita em Gaza, a 07 de outubro de 2023, foram mortos mais de 186 jornalistas, 180 dos quais palestinianos, alegadamente por fogo israelita.
A Associação de Imprensa Estrangeira (FPA) em Israel e nos territórios palestinianos também se manifestou hoje indignada com o "assassinato seletivo" dos jornalistas na Faixa de Gaza.
"Estes colegas estavam a desempenhar funções jornalísticas e a relatar os acontecimentos do momento", afirmou a associação num comunicado citado pela EFE.
A FPA recordou os dados da CPJ sobre os jornalistas mortos nos últimos 22 meses e criticou o exército israelita por rotular os profissionais palestinianos "como militantes, muitas vezes sem provas verificáveis, tornando-os alvos de ataque".
"O Governo israelita também continua a acusar de parcialidade os jornalistas palestinianos, que têm feito reportagens corajosas durante a guerra, apesar do grande risco pessoal envolvido", afirmou a FPA.
A associação recordou que Israel proíbe a entrada de jornalistas estrangeiros em Gaza, pelo que exigiu o fim dos ataques contra os jornalistas e que lhes permita entrar no território palestiniano e informar livremente.
A ofensiva israelita em curso em Gaza seguiu-se ao ataque sem precedentes do Hamas no sul de Israel em 07 de outubro de 2023, que causou cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns.
O Hamas e outros grupos radicais ainda mantêm em seu poder 50 reféns, dos quais 20 vivos e 30 mortos, que Israel exige que lhe sejam entregues.
A resposta militar israelita ao ataque provocou mais de 61.000 mortos em Gaza, bem como uma grave crise humanitária, com denúncias de mortes de crianças à fome, e a destruição de grande parte das infraestruturas do enclave.
Israel, Estados Unidos e União Europeia consideram o Hamas como uma organização terrorista.
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