Dois comandantes no Iraque do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), uma organização armada considerada terrorista pela Turquia, anunciaram hoje que alguns combatentes vão começar a desarmar-se em "sinal de boa vontade" com Ancara.
"Como gesto de boa vontade, vários combatentes do PKK que participaram na luta contra as forças turcas nos últimos anos vão destruir ou queimar as armas durante uma cerimónia nos próximos dias", disse à agência de notícias France-Presse (AFP) um comandante curdo, que pediu para não ser identificado, tendo um outro comandante confirmado as informações avançadas.
Representantes de partidos políticos, observadores locais e jornalistas são esperados na cerimónia no norte do Iraque, que poderá ter lugar entre 03 e 10 de julho, de acordo com a imprensa local.
Há anos que os comandantes e os combatentes do PKK estão a retirar-se para as montanhas do norte do Iraque.
Em 12 de maio, o PKK anunciou a dissolução e o fim de mais de quatro décadas de guerrilha que causou mais de 40.000 mortos, em resposta a um apelo feito no final de fevereiro pelo líder histórico Abdullah Ocalan, preso desde 1999 na ilha-prisão de Imrali, ao largo de Istambul.
O comandante do PKK contactado pela AFP indicou que Ocalan poderá ainda divulgar um comunicado.
Na semana passada, o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, declarou que ia encontrar-se nos próximos dias com uma delegação do Partido para a Igualdade e Democracia do Povo (DEM, antigo HDP - Partido Democrático dos Povos), a principal força política pró-curda na Turquia, que desempenhou um papel fundamental na troca de mensagens entre Ocalan e Ancara.
Este gesto do chefe de Estado turco surgiu depois de ter anunciado, a 27 de maio, a criação de uma equipa jurídica para redigir uma nova Constituição, o que alguns analistas e opositores disseram recear que Erdogan pretenda manter-se no poder, uma vez que não se pode recandidatar.
O Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), de Erdogan, e os aliados nacionalistas não têm os votos necessários para aprovar uma nova Constituição.
Alguns analistas disseram acreditar que o recente esforço do Governo para terminar o conflito de décadas com o PKK faz parte da estratégia para ganhar o apoio de um partido pró-curdo no parlamento.
O exército turco mantém dezenas de posições no Curdistão autónomo, no norte do Iraque, a partir de onde conduz há anos operações terrestres e aéreas contra o PKK, que foi forçado a retirar-se.
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