Em conferência de imprensa em Pequim, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês Guo Jiakun disse que Pequim está disposta a trabalhar com o Brasil e outros países do bloco de economias emergentes BRICS e da América Latina para defender um sistema comercial multilateral centrado na Organização Mundial do Comércio.
Guo sublinhou a importância da cooperação com o Brasil no setor da aviação, referindo-se ao insucesso das negociações para anunciar vendas de aeronaves durante a visita de Estado do Presidente chinês, Xi Jinping, a Brasília, em 2023, apesar das tentativas iniciais.
"A China valoriza a cooperação orientada para resultados com o Brasil, incluindo na aviação. Estamos prontos para promover a cooperação relevante com base em princípios de mercado e impulsionar o desenvolvimento nacional de ambos os países", afirmou.
O porta-voz recordou que a Embraer, um dos principais fabricantes mundiais de aeronaves comerciais de médio porte, depende fortemente dos EUA como principal mercado de exportação.
Horas depois, o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês voltou a defender o Brasil, reafirmando, através da rede social X, que as guerras comerciais "não têm vencedores".
A declaração surge num contexto de maior tensão diplomática. No início do mês, o Presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou uma tarifa de 50% sobre todas as importações brasileiras, justificando-a com a alegada perseguição política ao seu aliado, o ex-presidente Jair Bolsonaro, que aguarda julgamento pela participação numa tentativa de golpe de Estado, em 2023.
Segundo a CNN Brasil, um representante da administração Trump sugeriu informalmente que os EUA poderiam negociar o acesso a minerais raros brasileiros em troca da redução das tarifas.
A proposta nunca foi tornada pública, mas gerou preocupação em Brasília, onde as autoridades viram na sugestão uma tentativa de usar pressão económica para obter concessões estratégicas.
A China domina o mercado global de terras raras, fornecendo cerca de 70% da procura mundial e concentrando ainda mais capacidade de processamento.
Nos últimos anos, Pequim tem usado essa posição como instrumento em disputas comerciais, levando os EUA e aliados a procurarem fornecedores alternativos. O Brasil, que detém as segundas maiores reservas conhecidas, tornou-se uma opção cada vez mais relevante.
Um relatório recente do Conselho Empresarial China-Brasil indicou que as exportações brasileiras de compostos de terras raras para a China atingiram 6,7 milhões de dólares (mais de 5,7 milhões de euros) no primeiro semestre de 2025, triplicando face ao mesmo período do ano anterior.
Analistas apontaram que o aumento reflete a estratégia chinesa de diversificar o acesso a minerais críticos e reduzir os custos ambientais do processamento interno.
O Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, rejeitou publicamente qualquer tentativa norte-americana de pressionar o país a ceder o controlo sobre a sua riqueza mineral. Num evento sobre energia, no Rio de Janeiro, na segunda-feira, criticou o que considerou ser oportunismo de Washington.
Lula acrescentou que qualquer empresa interessada em explorar o solo brasileiro precisa de autorização estatal e está proibida de vender ou transferir direitos sem aprovação do Governo.
Com o prazo para as tarifas a aproximar-se, diplomatas brasileiros tentam evitar uma rutura comercial. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Mauro Vieira, chegou no domingo aos EUA para reuniões nas Nações Unidas, em Nova Iorque, e indicou que poderá deslocar-se a Washington se a administração Trump manifestar abertura para retomar negociações.
Uma delegação de oito senadores brasileiros permanece em Washington para encontros com legisladores, empresários e representantes da sociedade civil, prevendo ficar até quarta-feira e tentar reunir-se com o secretário norte-americano do Comércio, Howard Lutnick.
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